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Líder do Facebook rejeita obrigação de decidir o que é verdade

Kurt Wagner e Sarah Frier

18/10/2019 08h58

(Bloomberg) — O presidente do Facebook, Mark Zuckerberg, disse que a rede social não verifica a veracidade dos anúncios políticos que veicula porque empresas de tecnologia não devem atuar como árbitros da verdade.

"Não acho que a maioria das pessoas queira viver em um mundo onde só se pode postar coisas que as empresas de tecnologia consideram 100% verdade", declarou Zuckerberg na quinta-feira a um auditório lotado na Universidade Georgetown, em Washington. "As pessoas devem ter a possibilidade de ver por si mesmas o que os políticos estão dizendo."

Nas últimas semanas, se intensificaram as críticas à postura do Facebook em relação a anúncios políticos. Joe Biden e Elizabeth Warren, ambos pré-candidatos à presidência dos EUA, exigem que a empresa remova anúncios com afirmações sem provas veiculados pela equipe de Donald Trump, que tenta se reeleger. O Facebook se recusou a retirá-los e, ao fazer isso, trouxe à tona uma questão mais ampla, sobre a necessidade ou não de regulamentação desses anúncios nas redes sociais.

Zuckerberg admitiu na quinta-feira que já considerou proibir completamente os anúncios políticos em suas plataformas, mas que isso favoreceria os que já ocupam cargos. Os anúncios políticos representam uma parte pequena dos negócios da companhia.

"Em uma democracia, acredito que as pessoas devem decidir o que tem credibilidade, e não as empresas de tecnologia", disse ele.

A empresa não verifica a veracidade dos posts de políticos (incluindo anúncios) para não dar a impressão de que toma partido.

No começo deste mês, Warren aproveitou essa norma do Facebook e veiculou uma série de anúncios alegando que Zuckerberg estava apoiando a reeleição de Donald Trump ? o que não é verdade. Warren, que tenta a vaga do Partido Democrata para concorrer à presidência, publicou a afirmação falsa para chamar atenção para a postura do Facebook, após a campanha de Trump veicular um anúncio acusando outro democrata, Joe Biden, de subornar autoridades na Ucrânia, sem qualquer prova.

"O Facebook optou por vender os dados pessoais dos americanos a políticos que pretendem focar neles usando mentiras já refutadas e teorias da conspiração, se sobrepondo às vozes dos trabalhadores americanos", disse Bill Russo, porta-voz de Biden.

Por sua vez, Zuckerberg alertou que, se empresas de tecnologia e plataformas como o Facebook não lutarem para defender a liberdade de expressão, a internet no resto do mundo pode ficar como na China. Segundo ele, o governo chinês está montando uma versão censurada da internet e disseminando essa versão por meio dos serviços online mais populares do país.

Ele identificou o TikTok, rede social concorrente que pertence à Bytedance, como um desses serviços. De acordo com Zuckerberg, o TikTok censurou conteúdo relacionado aos protestos em Hong Kong.

"Até recentemente, a internet em quase todos os países a não ser a China foi definida por plataformas americanas com fortes valores de livre expressão", disse o presidente do Facebook. "Não há garantia que esses valores vencerão."

Zuckerberg também usou o discurso de quinta-feira ? promovido como uma conversa sobre a liberdade de expressão ? para argumentar que o enorme tamanho e a escala da rede social proporcionam um novo tipo de poder às pessoas: a capacidade de compartilhar seus pensamentos com as massas. Ele se referiu a esse poder como "um quinto estado, juntamente com outras estruturas de poder em nossa sociedade". Ele valorizou a importância de dar voz aos indivíduos, afirmando que é daí que vem o maior progresso para a mudança social.

Repórteres da matéria original: Kurt Wagner em São Francisco, kwagner71@bloomberg.net;Sarah Frier em San Francisco, sfrier1@bloomberg.net