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Como parar o aquecimento global? Com US$ 300 bi, diz ONU

Adam Majendie e Pratik Parija

23/10/2019 13h16

(Bloomberg) -- US$ 300 bilhões. Esta é a quantia necessária para interromper o aumento das emissões de gases causadores do efeito estufa e ganhar até 20 anos para consertar o problema do aquecimento global, de acordo com cientistas climáticos da Organização das Nações Unidas. É o equivalente ao Produto Interno Bruto do Chile ou aos gastos militares no mundo inteiro a cada 60 dias.

Esse dinheiro não seria usado para financiar tecnologias verdes ou uma solução mirabolante para emissões, mas sim práticas antigas e simples para prender milhões de toneladas de carbono novamente em um recurso negligenciado e demasiadamente explorado: o solo.

"Nós perdemos a função biológica dos solos. Precisamos reverter isso", disse Barron J. Orr, o principal cientista da Convenção de Combate à Desertificação da ONU. "Se fizermos isso, transformaremos a terra em grande parte da solução para a mudança climática."

De acordo com René Castro Salazar, diretor geral assistente da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), dos 2 bilhões de hectares de terras degradadas por uso indevido, criação descontrolada de pastos, desmatamento e outros fatores, 900 milhões de hectares podem ser restaurados.

Devolver a terra a plantações de alimentos, árvores ou mato poderia converter carbono suficiente em biomassa para estabilizar as emissões de dióxido de carbono, o principal causador do efeito estufa, por 15 a 20 anos, dando ao mundo tempo para adotar tecnologias neutras em carbono.

"Com vontade política e investimento de cerca de US$ 300 bilhões, é factível", disse Castro Salazar. Estaríamos "usando as opções de menor custo que temos, enquanto aguardamos as tecnologias de energia e transporte amadurecerem e ficarem totalmente disponíveis no mercado. Isso estabilizará as mudanças atmosféricas, a luta contra as mudanças climáticas, por 15 a 20 anos. Nós precisamos muito disso."

A ideia central é enfrentar o crescente problema de desertificação ? ou seja, a degradação da terra seca a ponto de não sustentar muitas formas de vida. Pelo menos um terço do solo do planeta sofreu degradação em alguma medida, afetando diretamente 2 bilhões de pessoas, afirmou Eduardo Mansur, diretor da divisão de terra e água da FAO.

Terras marginais estão sendo exauridas por fenômenos gêmeos: mudanças climáticas aceleradas e um crescimento populacional capaz de elevar o total mundial a quase 10 bilhões de pessoas até 2050. Boa parte desse crescimento ocorre em regiões como a África Subsaariana e o Sul da Ásia, onde o solo já é profundamente estressado.

No mês passado, em uma conferência da ONU sobre desertificação realizada em Nova Déli, 196 países mais a União Europeia aderiram a uma declaração de que cada nação adotaria as medidas necessárias para restaurar terras improdutivas até 2030. A equipe da ONU usou imagens de satélite e outros dados para identificar os 900 milhões de hectares degradados que poderiam ser realisticamente restaurados.

Em muitos casos, as áreas revitalizadas poderiam beneficiar as comunidades locais e nacionais por meio do aumento da oferta de alimentos, do turismo e outros fins comerciais.

O uso de fertilizantes é crucial para trazer vegetação de volta às terras secas, explicou Mansur. "Os fertilizantes são essenciais para elevar a produtividade. Fertilizante bom na quantidade certa é ótimo para o solo. "

Porém, décadas de más práticas agrícolas em países ricos e pobres resultaram em uso indevido, seja pelo emprego de produtos errados, pelo uso excessivo de fertilizantes ou pelo uso insuficiente a ponto de o solo perder nutrientes.

"Infelizmente, o problema é grande e está aumentando", disse Mansur. "A principal causa das emissões na agricultura é a má gestão da terra. Mas as soluções são conhecidas: gestão sustentável da terra, gestão sustentável da água e gestão sustentável do solo."

--Com a colaboração de Anuradha Raghu e Felix Njini.

Repórteres da matéria original: Adam Majendie Singapore, adammajendie@bloomberg.net;Pratik Parija em Nova Delhi, pparija@bloomberg.net