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Banco suíço Julius Baer quer dobrar ativos na América Latina

Patrick Winters

05/11/2019 12h57

(Bloomberg) -- O Julius Baer planeja uma rápida expansão na América Latina, desafiando rivais mais tradicionais após uma análise interna que durou três anos.

"Meu objetivo é dobrar os ativos sob gestão na minha região dentro de três a cinco anos", declarou Beatriz Sanchez, responsável pelas Américas no banco suíço, em entrevista. "Deve ser uma combinação de crescimento orgânico, aquisições estratégicas e empreendimentos conjuntos."

Sanchez e equipe estão definindo essa meta em meio a uma mudança geracional no comando do terceiro maior gestor de fortunas da Suíça. Philipp Rickenbacher, 48 anos, assumiu a presidência em setembro e imediatamente mexeu no Conselho Executivo. Após anos sob o estigma de uma investigação regulatória dos negócios na América Latina pelas autoridades suíças e a implementação de um amplo programa de compliance chamado Atlas, as atenções do banco agora se voltam para a expansão.

Revertendo o recuoSegundo Sanchez, o Julius Baer é atualmente o sexto ou sétimo maior banco privado internacional da região. Ela supervisiona cerca de 500 funcionários em todo o mundo, incluindo 160 gerentes de relacionamento. A instituição administra 40 bilhões de francos suíços (US$ 40,4 bilhões) em ativos de clientes latino-americanos na região. O rival suíço UBS Group tem cerca de 108 bilhões de francos em ativos, de acordo com uma apresentação feita a investidores no ano passado.

Os bancos suíços estão retornando à América Latina depois que programas de anistia provocaram retração em larga escala das contas bancárias secretas. Diante da expectativa de aumento do volume de riqueza acumulado internamente nos próximos anos, os bancos estão montando mais escritórios locais, além de fazer o atendimento no exterior dos clientes ricos.

Cerca de US$ 200 bilhões em patrimônio pessoal foram revelados na região na última década, após governos do Brasil, Argentina, Colômbia, México e Chile permitirem a declaração de ativos mantidos fora de seus países de origem, sem pesadas multas ou impostos. A maior parte da riqueza declarada, cerca de US$ 120 bilhões, estava nas mãos de argentinos, seguida dos brasileiros, com aproximadamente US$ 50 bilhões.

Fortunas em Miami

Em sua maior parte, o dinheiro não reinvestido no mercado interno acaba nos EUA, explicou Sanchez. A Suíça ainda atrai recursos, porém menos que no passado. Miami está se tornando destino preferido para esses fluxos e o Credit Suisse Group estuda montar uma base na cidade, segundo pessoas familiarizado com o assunto.

"Eu não estaria desempenhando meu papel adequadamente se não estivesse pensando estrategicamente em eventualmente precisar estar nos EUA", disse ela. "Mas agora isso não está em discussão."

No Brasil, seu maior mercado na região, o Julius Baer está incorporando duas aquisições a um negócio com mais de R$ 50 bilhões em ativos sob gestão e contratando gente na Suíça para atender clientes no exterior. No México, outro país fundamental para a operação, o banco acaba de receber aprovação para abrir um escritório de representação que abrirá caminho para a expansão local. A instituição também pretende aumentar seu alcance na Colômbia, acrescentou Sanchez.

Pouco conhecido até substituir Bernhard Hodler em setembro, Rickenbacher está explorando oportunidades de crescimento e pretende deixar sua marca pessoal na casa. Hodler supervisionou um período turbulento quando o banco tentava pisar no freio após a expansão vertiginosa capitaneada por seu antecessor Boris Collardi.

No início de outubro, Rickenbacher reduziu o alto escalão e aumentou o poder de alguns gestores. Foi sua primeira grande mudança desde que assumiu as rédeas do banco privado. O movimento também deu maior responsabilidade a Sanchez, que enfrentou polêmicas depois que um ex-integrante de sua equipe foi apanhado em um escândalo de corrupção.

A prisão de Matthias Krull, que tinha uma posição importante como private banker na Venezuela, levou o Julius Baer a realizar uma investigação interna. Krull foi condenado a 10 anos de prisão por um tribunal federal dos EUA em 2018, depois de se declarar culpado por lavagem de dinheiro.

Sanchez fechou as operações do Julius Baer no Panamá e no Peru como parte da revisão estratégica dos negócios na América Latina. Vários banqueiros seniores na região deixaram o banco.