Mexicanos se exasperam com caos em aeroporto da capital
(Bloomberg) -- Em um jato que circula sobre o Aeroporto Internacional Benito Juárez, onde o piso está afundando e os toaletes cheiram mal, é possível vislumbrar algo em um canteiro de obras abandonado a alguns quilômetros de distância. É a carcaça de um plano para acabar com o caos de voar dentro e fora da Cidade do México.
Há um ano, o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, suspendeu o plano, o que decepcionou companhias aéreas, consternou passageiros que voam frequentemente e chocou investidores. Afinal, cerca de US$ 5 bilhões foram investidos no Novo Aeroporto Internacional de Texcoco. A estimativa para finalizá-lo apontava a necessidade de investir outros US$ 8,3 bilhões - e abandonar o plano acabará custando mais de US$ 9 bilhões.
Agora, López Obrador enfrenta uma batalha contra desafios legais enquanto uma coalizão de líderes empresariais e ativistas tentam retomar o projeto abandonado. É improvável que consigam uma vitória. Os presidentes têm amplo poder no sistema mexicano, e López Obrador é muito determinado.
"Este é um reflexo perfeito de como, quando ele decide que algo é prioridade, é quase impossível que mude de ideia", disse Carlos Petersen, analista do Eurasia Group. "O cancelamento do aeroporto foi a primeira vez que investidores viram como ele operaria, e estamos vendo o mesmo com Santa Lucía."
Santa Lucía é o nome da base da força aérea onde López Obrador ordenou a construção de duas pistas comerciais, por cerca de US$ 4 bilhões. O Ministério da Defesa comanda o projeto sob sigilo, sem revelar detalhes sobre contratos e estudos de viabilidade e impacto ambiental. A abordagem lembra outro projeto que o presidente tem como alvo - um trem turístico na península de Yucatán - sem revelar como o governo chegou à estimativa de US$ 7,4 bilhões e dando de ombros às críticas de que o empreendimento é imprudente.
López Obrador, um político de esquerda eleito no ano passado, prometeu que todas as informações sobre Santa Lucía serão divulgadas um dia: "Não temos nada a esconder. Não somos como os conservadores".
Os críticos não acreditam necessariamente no presidente e, de qualquer forma, afirmam que a transparência chegará tarde demais. Recentemente, um juiz autorizou a construção de Santa Lucía, enquanto os tribunais analisam mais de 100 processos contra o projeto.
Se a base funcionar como um aeroporto comercial - o que o presidente insiste que acontecerá em 2022 -, não substituirá Benito Juárez, embora deva aliviar a pressão.
A única certeza no debate é que as pessoas gostariam de evitar o caos de Benito Juárez. Os desembarques abortados devido aos congestionamentos nas pistas aumentaram 84% nos primeiros cinco meses do ano; os passageiros podem ficar sentados por horas em aviões que não conseguem encontrar portões livres.
Para contatar o editor responsável por esta notícia: Daniela Milanese, dmilanese@bloomberg.net
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