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BNDES avança na venda de R$ 8 bilhões de ações da JBS

Gerson Freitas Jr., Cristiane Lucchesi e Tatiana Freitas

19/11/2019 15h43

(Bloomberg) -- O BNDES está avançando com seu plano de vender parte de sua participação na JBS, aproveitando a forte alta das ações do frigorífico para ajudar a reabastecer os cofres do governo.

O BNDES contratou o Bradesco BBI, o BTG Pactual, o Bank of America Merrill Lynch, o Itaú BBA e o UBS Brasil Corretora como assessores financeiros e legais, informou a JBS em comunicado nesta terça-feira. O banco de desenvolvimento venderá ações em oferta pública secundária no Brasil e no exterior, de acordo com o documento.

"É um momento muito bom para a indústria de carne bovina como um todo no Brasil", tornando o momento para a venda de ações especialmente bom, disse o presidente do BNDES, Gustavo Montezano, em entrevista na sede da Bloomberg em Nova York na terça-feira.

A transação provavelmente será realizada via mercado de capitais, e não como uma venda para um único investidor, de acordo com Montezano. "Quanto mais fazemos as coisas por meio do mercado de capitais, mais transparência temos, mais suave é o processo", disse ele.

O banco detém cerca de 21,3% das ações da JBS e escolheu a gigante de carne bovina para iniciar o plano de desinvestimento que faz parte da diretriz do presidente Jair Bolsonaro de reduzir o tamanho do estado. A venda de ações da JBS pelo BNDES será de cerca de R$ 8 bilhões, disse Bruno Boetger, diretor executivo do Bradesco. Montezano preferiu não comentar sobre o tamanho da venda ou o momento.

O recente rali da gigante da carne bovina foi alimentado por interrupções no fornecimento de carne de porco na China, que levaram a preços globais mais altos da carne e margens mais altas no mercado de carne bovina dos EUA. As ações da JBS subiram 149% no ano passado, o melhor desempenho entre seus pares globais. Os ganhos elevaram o valor da participação do BNDES para R$ 15,6 bilhões, ante cerca de R$ 5 bilhões um ano atrás.

O plano de vendas do BNDES também tem apelo político. O banco de desenvolvimento, o maior acionista da JBS depois da família Batista, teve um papel crucial na expansão da produtora de carne no exterior. O BNDES injetou um total de R$ 5,6 bilhões para a aquisição da Swift & Co. em 2007, das unidades produtoras de carne bovina da Smithfield Foods em 2008 e da produtora de aves Pilgrim's Pride em 2009. Outros R$ 2,5 bilhões foram investidos na Bertin, que foi adquirida pelos Batistas em 2009.

Os laços entre o banco e a empresa se tornaram alvo do TCU em 2015, em meio a supostas evidências de "tratamento especial", o que a JBS e o BNDES negaram repetidamente.

Em 2017, Joesley Batista, um dos irmãos que controlam a JBS, admitiu ter pago propina a um ex-funcionário do governo em troca de transações com o banco estatal. As revelações levantaram questões sobre concorrência desleal no exterior, já que a JBS engoliu mais de 40 rivais nos quatro continentes entre 2007 e 2017.

Mesmo depois que os irmãos que controlam a empresa acertaram acordo de delação e sua holding, a J&F, assinaram acordo de leniência com as autoridades brasileiras, os laços da JBS com o BNDES continuaram a ser analisados. Em outubro, dois senadores dos EUA pediram ao Comitê de Investimento Estrangeiro do Senado uma revisão das transações feitas pela empresa, as quais disseram estar "envolvidas em atividades financeiras ilícitas, incluindo subornar funcionários do governo brasileiro".

O episódio provocou queda nas ações da JBS, que estão pressionadas mais recentemente em antecipação à iminente venda de ações do BNDES. As ações acumulam queda de 6% neste mês, ficando atrás dos pares e do Ibovespa.

Repórteres da matéria original: Gerson Freitas Jr. New York, gfreitasjr@bloomberg.net;Cristiane Lucchesi em São Paulo, clucchesi5@bloomberg.net;Tatiana Freitas em São Paulo, tfreitas4@bloomberg.net