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Ataque contra Irã abala estratégia de Trump para Oriente Médio

Nick Wadhams e David Wainer

06/01/2020 11h03

(Bloomberg) — O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e seus principais assessores passaram o fim de semana argumentando que o assassinato do general iraniano Qassem Soleimani vai impedir futuros ataques e tornar o Oriente Médio mais seguro.

No entanto, a política dos EUA na região parece ir na direção oposta à que Trump tem prometido há muito tempo: com mais tropas americanas sendo enviadas, não menos; um Irã desafiador, e não intimidado e frágil por sanções; e aliados regionais dando apenas um apoio morno ao ataque aéreo de Trump, em vez de se unirem em torno da decisão.

A reação política foi rápida. A coalizão liderada pelos EUA contra o Estado Islâmico suspendeu as operações, e o parlamento do Iraque pediu no domingo a retirada das tropas dos EUA. Trump respondeu dizendo que o Iraque poderia enfrentar sanções e teria que "reembolsar" o governo americano. O Irã disse que não vai mais respeitar os limites do enriquecimento de urânio estabelecidos como parte de um acordo nuclear fechado em 2015 e que Trump abandonou em 2018.

As ações dos EUA "tornaram uma situação já volátil muito mais perigosa", disse o tenente-coronel aposentado Daniel Davis, membro sênior do think tank Defense Priorities, que defende a retirada das tropas americanas do Iraque. "Se você prestou atenção ao Irã nos últimos 40 anos, sabe que eles nunca se dobrarão a esse tipo de pressão. É exatamente o oposto."

O ataque contra Soleimani pareceu unir os iranianos depois de meses de protestos contra o próprio governo. Centenas de milhares de pessoas foram às ruas para homenagear um chefe militar que fez o país - atingido pelas sanções econômicas dos EUA - parecer forte, dando a Teerã influência em conflitos da Síria ao Iêmen. O Irã prometeu vingança, enquanto aliados, como o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, avisaram que pretendem expulsar os mais de 50 mil soldados americanos da região.

O ataque "uniu a maioria das forças políticas do Iraque contra os EUA", disse Fawaz Gerges, professor de relações internacionais da London School of Economics. Segundo ele, o governo Trump errou feio no cálculo.

A luta contra o Estado Islâmico foi imediatamente prejudicada. A coalizão liderada pelos EUA disse que suspenderia as operações no Iraque para se concentrar na proteção de bases que agora são alvo de ataque. Ameaças de milícias apoiadas pelo Irã já haviam forçado a saída de funcionários em missões diplomáticas dos EUA em todo o país.

"Se eles nos pedirem para sair, se não o fizermos de maneira muito amigável, cobraremos sanções como nunca viram antes", disse Trump no domingo.

—Com a colaboração de Robert Hutton, Joshua Wingrove, Glen Carey e Derek Wallbank.

Para contatar o editor responsável por esta notícia: Daniela Milanese, dmilanese@bloomberg.net

Repórteres da matéria original: Nick Wadhams Washington, nwadhams@bloomberg.net;David Wainer New York, dwainer3@bloomberg.net