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Cenário de risco pode levar minério de ferro de volta a US$ 70

Krystal Chia

31/01/2020 07h35

(Bloomberg) -- O minério de ferro corre risco de voltar a cair para a casa dos US$ 70 depois de um mês de fortes ganhos. Uma poderosa combinação de expectativas de maior oferta global este ano e preocupações de que a demanda de curto prazo na China será afetada pela propagação do coronavírus pressiona os preços.

Os contratos futuros em Cingapura acumulam queda de quase 10% esta semana e estão a caminho de fechar no menor nível desde meados de novembro. A rápida queda acompanhou o declínio dos preços globais de outras matérias-primas industriais quando o surto piorou este mês, incluindo o cobre. Os mercados da China reabrem na segunda-feira.

"O preço do minério de ferro está em queda devido aos temores de contínua demanda fraca por aço, o que aumentará a pressão sobre os preços do aço e forçará usinas a reduzirem a produção", disseram os analistas Erik Hedborg e Andrew Gadd, do CRU Group, em relatório. Ao mesmo tempo, os embarques se recuperam e é provável que o fluxo aumente nos portos da China na próxima semana, disse o CRU.

Já havia expectativa de que os preços do minério de ferro recuassem este ano, pois mineradoras globais elevaram a produção após interrupções em 2019, mas as cotações estão novamente sob pressão devido à emergência de saúde na principal economia da Ásia. Nesta semana - com o aumento do número de mortes na China e a extensão do Ano Novo Lunar -, a Fortescue Metals, quarta maior mineradora do mundo, divulgou maior produção trimestral.

A China é a maior produtora de aço, sendo responsável por mais da metade da produção global, e principal importadora de minério de ferro. Desde o surto, a indústria siderúrgica tem sido afetada por medidas para conter o impacto do patógeno sobre a logística, mão de obra e demanda. A atividade do setor de construção deve diminuir, pois os operários estão impedidos de retornar ao trabalho.

Tangshan, principal centro de fabricação de aço, suspendeu o transporte público na terça-feira, sem data definida para retomar os serviços. Além disso, províncias como Guangdong, Zhejiang, Jiangsu, Hebei, Anhui, Fujian, Yunnan, Shandong e Jiangxi disseram que as empresas não precisam reiniciar as atividades até pelo menos 10 de fevereiro.

"Se as restrições de transporte permanecerem em vigor ou forem estendidas ainda mais, é provável que vejamos filas de embarcações ou acúmulo de estoques de minério de ferro nos portos chineses, enquanto as usinas seriam forçadas a tomar medidas diante da potencial escassez de minério de ferro", segundo o CRU.

Visão da Fortescue Metals

Ainda assim, mineradoras minimizam o impacto. A Fortescue disse que a preocupação sobre o vírus está afetando as expectativas, mas não o comércio físico de minério de ferro, e não deve haver nenhum impacto fundamental sobre os preços. Já a Vale disse que as operações nos portos asiáticos estão normais, embora visitas de funcionários da empresa à China tenham sido suspensas e a equipe na Ásia esteja trabalhando remotamente.

Em geral, o Wood Mackenzie tem uma visão positiva, destacando em relatório que, embora haja um "declínio inevitável da demanda por aço que afetará os preços e as margens", ainda não há necessidade imediata de ajustar sua previsão para o minério de ferro, de US$ 80 em 2020.

Diante do desafio, a China pode injetar mais estímulos na economia, disse o WoodMac. "Construção e manufatura são duas maneiras prováveis de o governo central procurar impulsionar o crescimento", afirmou. "Essas medidas ajudarão a manter a resistência da demanda por aço, minério de ferro, carvão metalúrgico e térmico, apesar do impacto no curto prazo."

Para contatar o editor responsável por esta notícia: Daniela Milanese, dmilanese@bloomberg.net