Curva invertida reflete mais medo global do que recessão nos EUA
(Bloomberg) -- A curva de juros dos Estados Unidos flerta novamente com outra ampla inversão, realimentando temores de Wall Street sobre o destino da economia norte-americana.
Um coro crescente de especialistas está sendo influenciado por outro fator: o sinal pode dizer mais sobre o estado da economia global do que sobre o ciclo econômico dos EUA.
Os títulos do Tesouro dos EUA agora respondem por mais da metade de todos os ativos globais considerados seguros, o dobro da proporção que representavam durante a crise financeira, segundo a Eurizon SLJ Capital. Isso complica as coisas quando os juros de longo e curto prazo se invertem: o que costumava ser um indicador confiável de recessão nos EUA é, em vez disso, um termômetro de investidores em busca de proteção em todo mundo.
É uma narrativa que faz muito sentido, pois a ameaça do coronavírus continua a aumentar e reacende o debate do ano passado sobre o poder de previsão ainda embutido na curva.
"Em busca de segurança e duração, todo mundo está indo para os Treasuries dos EUA", disse Gregory Faranello, chefe para juros dos EUA na AmeriVet Securities. "A inversão da curva de juros agora é sinal de problemas de crescimento global e não reflete realmente o que está acontecendo nos EUA."
Após uma pausa no início da semana passada, a curva está novamente achatando, e a diferença entre a taxa dos títulos do Tesouro de 10 anos e a de três meses diminuiu pelo terceiro dia na segunda-feira. No auge da ansiedade causada pelo coronavírus e onda de venda de ações no fim do mês passado, a curva se inverteu brevemente pela primeira vez desde outubro.
Os rendimentos dos títulos geralmente aumentam em linha com a duração da dívida porque compensam os efeitos da inflação. Se o retorno de uma nota de 10 anos for inferior ao de um título de três meses, sugere que os investidores têm uma visão pessimista do crescimento e inflação daqui a uma década.
Stephen Jen, presidente da Eurizon SLJ, diz que o apetite global por títulos de dívida dos EUA ajuda a explicar o caso excepcional dos EUA em termos de crescimento, mercados de câmbio e ações.
Jen prevê que até 2022 a dívida do governo dos EUA representará dois terços do volume mundial de títulos considerados seguros graças à grande emissão e à flexibilização quantitativa de outros bancos centrais. Seus cálculos são baseados no montante pendente de dívida do governo nos EUA, Japão e nas três maiores economias europeias, subtraindo a parcela que pertence aos bancos centrais.
"Os EUA podem, perversamente, prosperar por causa de problemas em outros lugares", disse Jen em entrevista. "Quando os rendimentos dos títulos do Tesouro norte-americano caem devido a choques fora dos EUA que podem ou não ter um impacto na economia norte-americana, isso geralmente fornece estímulos adicionais."
É uma visão que autoridades do Federal Reserve estão prestando muita atenção diante do aumento dos riscos globais decorrentes do vírus. Em entrevista à Bloomberg TV na sexta-feira, o vice-presidente do Fed, Richard Clarida, minimizou a inversão da curva e disse que o spread negativo "é na verdade impulsionado não tanto pelas perspectivas para a economia dos EUA, mas globalmente". Quando há incerteza, o dinheiro flui para os EUA, disse, por isso os atuais movimentos dos rendimentos não refletem as perspectivas para os EUA.
--Com a colaboração de David Westin.
Para contatar o editor responsável por esta notícia: Daniela Milanese, dmilanese@bloomberg.net
Repórteres da matéria original: Anchalee Worrachate London, aworrachate@bloomberg.net;Liz McCormick New York, emccormick7@bloomberg.net
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