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Argentina se prepara para negociar dívida com FMI

Patrick Gillespie e Jorgelina Do Rosario

11/02/2020 10h14

(Bloomberg) -- O presidente da Argentina, Alberto Fernández, comparou a negociação da dívida do país com um jogo de pôquer. Nesta semana, ele terá que mostrar algumas de suas cartas ao Fundo Monetário Internacional.

Os negociadores do FMI chegam a Buenos Aires nesta quarta-feira para sua primeira missão desde que o presidente de esquerda assumiu o cargo em dezembro. Antes de concordar com qualquer alteração nos termos do acordo atual, a equipe do FMI vai querer ver o plano com o qual Fernández pretende negociar mais de US$ 320 bilhões em dívida total e resgatar uma economia que deve encolher pelo terceiro ano consecutivo.

As conversas com o FMI, ao qual a Argentina deve US$ 44 bilhões, serão fundamentais para uma negociação ainda mais ampla com os credores para evitar um default. Se o Fundo declarar que a dívida do país é insustentável, segundo a classificação usada por Fernández repetidamente, isso poderia dar mais poder de barganha ao presidente para impor maiores descontos sobre o valor devido aos credores.

"Se você conversa com credores privados, muitos deles veem o FMI como seu pior inimigo", disse Jimena Blanco, chefe de pesquisa política da América Latina da consultoria Verisk Maplecroft, em Buenos Aires. "O FMI poderia complicar uma negociação para detentores de títulos no final ao concordar que, nos termos atuais, a Argentina seria incapaz de cumprir seus compromissos de dívida."

Além de bilhões de dólares em dívidas, muita coisa está em jogo para ambos os lados.

Fernández prometeu aos eleitores que recuperaria uma economia que sofre com a inflação de 54% e alto desemprego. O FMI, um vilão perene na Argentina depois de mais de 20 acordos de financiamento desde 1958, espera recuperar algum campo de negociação com seu maior devedor depois que o empréstimo recorde de US$ 56 bilhões, aprovado em 2018, pouco contribuiu para melhorar a economia ou a reputação do Fundo no país.

Cartas na manga

Com dois meses de mandato, Fernández optou por não anunciar planos econômicos abrangentes e, em vez disso, recorreu a uma série de aumentos de impostos, congelamentos de preços e reajustes salariais para apaziguar os eleitores. Sua única declaração importante sobre as negociações da dívida foi que pretende encerrá-las até 31 de março, um prazo difícil de cumprir.

"Não é verdade que não temos um plano, não o contamos apenas porque estamos em plena negociação e contá-lo seria mostrar as cartas", disse o presidente no início deste mês em um evento em Paris. "Estamos jogando pôquer, e não com crianças."

Uma carta que o governo de fato mostrou foi o que está pedindo ao FMI: "mais tempo" para pagar a amortização de capital de seu empréstimo mais recente que vence entre 2021 e 2023, de acordo com o ministro da Economia, Martín Guzmán. Caso contrário, levará "muito tempo" para o país fazer pagamentos de juros a credores privados, disse.

Embora Fernández tenha criticado o Fundo durante a campanha, dizendo que o FMI era parcialmente responsável pela crise da Argentina, as relações descongelaram desde que ele assumiu o poder. Ambos os lados começaram a falar positivamente um sobre o outro mais recentemente e, na semana passada, a diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, disse que teve uma reunião "muito produtiva" com Guzmán em Roma.

"A diferença de mentalidade do governo e do FMI não é tão distante em termos de política fiscal, o principal problema é a política monetária", disse Diego Pereira, economista do JPMorgan para América do Sul.

O Ministério da Economia da Argentina não quis comentar tampouco o FMI.

Para contatar o editor responsável por esta notícia: Daniela Milanese, dmilanese@bloomberg.net

Repórteres da matéria original: Patrick Gillespie Buenos Aires, pgillespie29@bloomberg.net;Jorgelina Do Rosario Buenos Aires, jdorosario@bloomberg.net