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Mercado de açúcar tem melhor começo de ano em uma década

Isis Almeida

11/02/2020 09h08

(Bloomberg) -- Com traders de açúcar reunidos em Dubai para um dos encontros mais importantes do ano, só se fala na espetacular virada do mercado que antes parecia muito improvável.

Os contratos futuros acumulam ganho de 12% em 2020 - o melhor começo de ano em uma década -, desafiando a propagação do vírus da China que derruba as cotações de várias commodities, como petróleo, cobre e soja. E tudo graças à Tailândia: a pior seca das últimas décadas reduziu a safra do segundo maior exportador do mundo.

O aperto da oferta tailandesa surpreendeu operadores quando a União Europeia já produzia menos, o Brasil transformava mais cana em etanol e o clima frio destruía lavouras na América do Norte. Com isso, a trading de commodities londrina ED&F Man Holdings aumentou a previsão do déficit mundial de açúcar nesta temporada em cerca de 10%, para 7,7 milhões de toneladas, depois do superávit do ano anterior.

Enrico Biancheri, chefe global de açúcar da Louis Dreyfus, disse que o principal foco do mercado agora é avaliar a gravidade da situação na Tailândia. "Vemos uma situação em que a Tailândia não consegue nem abastecer seu principal mercado, que é a Indonésia", disse em entrevista na Dubai Sugar Conference.

A produção de açúcar na Tailândia deve cair 30% em relação ao recorde do ano passado, segundo a associação Thai Sugar Millers. Além disso, ainda não há consenso sobre o tamanho da safra de cana. Enquanto a maioria dos operadores espera um volume entre 80 milhões e 85 milhões de toneladas, abaixo dos 130 milhões do ano passado, alguns projetam ainda menos.

"A situação é muito, muito ruim", disse Mauro Angelo, diretor comercial da Alvean, a joint venture entre Cargill e Copersucar que é a maior trading de açúcar do mundo. "O esmagamento diário começou a diminuir e, na verdade, começamos a considerar 78, 77" milhões de toneladas, disse.

Depois de passar grande parte de 2019 em baixa, os preços do açúcar já haviam iniciado uma recuperação no fim do ano passado. Uma geada na América do Norte reduziu as safras, redirecionando o açúcar do México que originalmente deveria abastecer o comércio mundial. E, agora, os problemas da Tailândia alimentam ainda mais o rali, mesmo com elementos tradicionais de baixa, como queda das cotações do petróleo, alta do dólar em relação ao real e ameaça à economia da China, com a pressão do coronavírus sobre os mercados globais.

"Apesar de todos esses pontos negativos, colocando em perspectiva, essa alta do açúcar é ainda mais espetacular", disse Patricia Luis-Manso, chefe de análises de açúcar e biocombustíveis da S&P Global Platts, em entrevista em Dubai.

A menor produção tailandesa foi inesperada em parte porque muitos não observaram uma queda da área plantada, com culturas concorrentes como arroz e mandioca pagando mais. Outros também atribuíram a queda à má administração dos canaviais depois de anos de preços mais baixos e processo de mecanização da colheita, o que geralmente leva a uma produção menor no início.

O Brasil já fez hedge de cerca de 70% de suas exportações de açúcar este ano, muito acima do normal, segundo estimativas da Cofco. Isso também poderia adicionar outro elemento de alta, pois alivia a pressão de venda dos mercados futuros. Mesmo a ameaça das exportações indianas não é mais tão pertinente. Segundo a maioria das tradings, o mercado global agora precisa dos 4 milhões de toneladas que o país do sul da Ásia deve exportar.

Para contatar o editor responsável por esta notícia: Daniela Milanese, dmilanese@bloomberg.net