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Corte de estimativas pela Apple expõe forte dependência da China

Mark Gurman, Debby Wu e Yuan Gao

18/02/2020 11h00

(Bloomberg) -- Pela segunda vez em muitos anos, a Apple teve que reduzir as estimativas para vendas por causa de eventos inesperados na China, o país que tem sido motor de seu crescimento e sucesso. Primeiro, a guerra comercial com os Estados Unidos e, agora, um novo coronavírus reacendem o debate sobre o papel da China como parceiro confiável de mercado e cadeia de suprimentos para a fabricante de eletrônicos mais valiosa do mundo.

O coronavírus, que paralisou a produção e a logística meticulosamente orquestradas da China, atingiu a oferta e a demanda da Apple. As fábricas retomam as operações mais lentamente do que o esperado, segundo anúncio da empresa, e a maioria de suas 42 lojas no país está fechada, ilustrando a alta exposição de seus negócios a problemas no país mais populoso do mundo. É provável que uma queda das vendas na China seja o impacto mais imediato neste trimestre, enquanto gargalos generalizados na produção correm o risco de afetar a receita global do iPhone nos meses seguintes.

Em meio aos problemas relacionados ao coronavírus, a Apple se prepara para lançar um iPhone de baixo custo por cerca de US$ 400, segundo reportagem da Bloomberg News. O modelo ainda pode ser lançado em março, embora os planos possam ser mudados, segundo pessoas a par do assunto. A Apple também prepara modelos atualizados do iPad Pro com um novo sistema de câmera para o primeiro semestre de 2020, e o vírus ainda pode causar atrasos ou restrições nesses planos.

Ao entrar na empresa no fim dos anos 90, o diretor-presidente da Apple, Tim Cook, transformou a cadeia de fornecimento da Apple na eficiente máquina que tem sido motivo de inveja há muito tempo no setor. Os produtos são fabricados na China com mão de obra barata, porém qualificada, e exportados para o mundo em questão de dias. Dependendo da Foxconn Technology, de Taiwan, para executar operações no terreno e dos altos investimentos chineses em transporte para garantir a logística, a Apple se tornou uma empresa de trilhões de dólares vendendo principalmente iPhones, iPads, Macs e acessórios fabricados na China.

Responsável por milhões de empregos no país, a Apple de Cook também ganhou a simpatia do governo chinês para obter um acesso ao mercado que é incomparável entre os pesos-pesados da tecnologia dos EUA. O Facebook e o Google olham de fora, enquanto a Apple pode vender todos seus aparelhos no mercado chinês. A empresa com sede em Cupertino, na Califórnia, fatura mais de US$ 40 bilhões por ano na Grande China, atrás apenas das vendas nos EUA e Europa. Essa força também é a fonte da vulnerabilidade da Apple.

Na segunda-feira, a Apple cortou seu guidance de vendas para o trimestre que termina em 31 de março, que já era mais amplo do que o habitual devido à imprevisibilidade do surto de coronavírus.

Os problemas na principal base de fabricação do iPhone em Zhengzhou podem se estender até o trimestre de junho e, possivelmente, além desse período. A Hon Hai Precision Industry, da Foxconn, só começou o recrutamento sazonal na segunda-feira, com semanas de atraso, e foi seriamente afetada pelas novas políticas destinadas a coibir a propagação do Covid-19 no campus. Um recrutador, que falou sob condição de anonimato, disse à Bloomberg News que a empresa estava contratando apenas trabalhadores na região de Zhengzhou, reforçando as restrições e descartando a grande maioria de mão de obra disponível.

Para contatar o editor responsável por esta notícia: Daniela Milanese, dmilanese@bloomberg.net

Repórteres da matéria original: Mark Gurman em San Francisco, mgurman1@bloomberg.net;Debby Wu Taipei, dwu278@bloomberg.net;Yuan Gao Beijing, ygao199@bloomberg.net