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Chile teme novos protestos com fim das férias de verão

Valentina Fuentes e Eduardo Thomson

21/02/2020 15h48

(Bloomberg) -- Gianni Sichel tem estado ocupado, visitando clientes no centro de Santiago para dizer que seus caminhões de reciclagem coletarão resíduos somente antes do amanhecer em março. Nesse horário, eles podem evitar os bloqueios de estradas.

A Bendito Residuo ainda se recupera dos efeitos dos protestos de estudantes contra o aumento da tarifa do metrô no ano passado, que alimentaram uma fúria generalizada contra a desigualdade de renda e injustiça social no Chile. A usina de reciclagem de resíduos orgânicos de Sichel, ao norte de Santiago, foi atacada em dezembro, vítima de uma onda indiferenciada de violência contra empresas. Foram necessários mais de 20 caminhões de bombeiros para controlar o incêndio. Hoje, a usina opera com apenas 20% da capacidade.

"Quatro meses atrás, ninguém sabia o que ia acontecer", disse. "Desta vez, não queremos ser pegos desprevenidos."

A polícia já identificou 25 convocações diferentes para marchas no próximo mês, de acordo com reportagens da mídia local, e empresários, investidores, governo e partidos políticos do Chile se preparam para novos protestos após a pausa do verão.

Desde outubro, o país mais rico da América do Sul enfrenta os maiores protestos desde a ditadura de Augusto Pinochet, que terminou em 1990. Confrontos violentos entre polícia e manifestantes deixaram cerca de 30 mortos, pelo menos 3,8 mil feridos e 20 mil presos. O Instituto Nacional de Direitos Humanos recebeu mais de 1,8 mil acusações de abuso.

Em meio à popularidade em queda, o governo prometeu reformas nas pensões, saúde, impostos e aumento dos salários. Também concordou reformar a Constituição da era Pinochet para tornar mais fácil a aprovação de leis e reduzir o poder do setor privado.

Mas agora estudantes retornam aos campi, e o país aguarda para ver se as mudanças prometidas manterão a paz. Diego Diaz, estudante de direito de 21 anos da Universidade do Chile e que participou dos protestos desde o início, disse que mais manifestações são inevitáveis.

"É ingênuo acreditar que nada acontecerá em março", disse. "É perverso querer que tudo volte ao normal."

Gloria de la Fuente, cientista política e diretora da organização de centro-esquerda Fundación Chile 21, disse: "Quando as pessoas perdem a confiança nas instituições, como vimos acontecer no Chile, a violência aparece como alternativa".

Para contatar o editor responsável por esta notícia: Daniela Milanese, dmilanese@bloomberg.net

Repórteres da matéria original: Valentina Fuentes Santiago, vfuentes8@bloomberg.net;Eduardo Thomson em Santiago, ethomson1@bloomberg.net