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Choque do petróleo pode abalar mercado de açúcar por dois anos

Fabiana Batista

12/03/2020 09h32

(Bloomberg) -- Ainda que o colapso atual do mercado de petróleo seja de curto prazo, operadores de açúcar já alertam que a volatilidade desta semana pode impactar o comércio de açúcar nos próximos dois anos.

Isso porque usinas no Brasil, o maior fornecedor de açúcar do mundo, se apressam em fixar preços para a próxima temporada e a seguinte. A volatilidade do mercado de câmbio causou uma corrida ao hedge no início do ano, que agora é acelerada pelo choque do petróleo.

As usinas no Brasil transformam a cana em açúcar ou etanol com base na visão de lucro. A queda do petróleo torna o biocombustível menos competitivo e aumenta as expectativas para a produção de açúcar.

No caso da Usina Lins, como o açúcar agora é mais rentável, a empresa planeja transformar 40% da cana no adoçante, disse o presidente Lourenço Biagi durante conferência do setor, em Ribeirão Preto. Em temporadas em que o etanol é mais atraente, esse percentual costuma ser de 32%.

A recente volatilidade do mercado e oscilações favoráveis da taxa de câmbio levaram a empresa a fixar os preços de todo o açúcar a ser produzido na safra 2020-2021, que começa em abril. E o hedge já está completo para cerca de 50% da produção de 2021-2022, disse.

É uma mudança repentina para usinas brasileiras, que vinham reduzindo a produção de açúcar nos últimos anos. A maioria dos motoristas do país possui carros flex, e o petróleo mais caro levou a uma demanda recorde por biocombustível. Com a limitação da produção de açúcar da América do Sul e problemas climáticos na safra de cana da Tailândia, a maioria dos analistas prevê déficit da commodity na próxima temporada. Mas como agora as usinas brasileiras estão menos propensas a produzir etanol, o aperto da oferta de açúcar deve começar a diminuir.

Os futuros de açúcar em Nova York acumulam queda de cerca de 19% em relação ao pico de 2020, à beira de um mercado baixista. Com a expectativa de maior produção brasileira, esse limite poderia ser rompido.

A alta do dólar em relação ao real aliviou parte da queda dos futuros de açúcar em Nova York para os produtores brasileiros, e as usinas do país ainda são capazes de fazer hedge do açúcar em níveis lucrativos, disse Plinio Nastari, presidente da consultoria Datagro, em entrevista na conferência de Ribeirão Preto, que foi organizada pela empresa na quarta-feira.

Isso significa que as usinas já fizeram hedge, em média, de cerca de 30% das exportações esperadas para a temporada 2021-2022, um nível muito atípico com essa antecedência, disse Nastari.

"Mesmo com o recente declínio do açúcar em Nova York, a taxa de câmbio no Brasil ainda dá suporte para os preços em reais em bons níveis. O Brasil deve produzir mais açúcar nas próximas duas safras", disse Jeremy Austin, diretor da Sucden no Brasil, em entrevista.

A trading espera que a produção de açúcar no Centro-Sul aumente 24%, para 33 milhões de toneladas em 2020-2021, disse.

Se os preços do petróleo voltarem a subir e o etanol se consolidar como competitivo novamente, as usinas poderão desfazer algumas das posições de açúcar, disse Gabriel Feres Junqueira, diretor da Bioenergética Aroeira.

Mas, por enquanto, as usinas apostam no adoçante. Junqueira disse que a empresa está totalmente protegida para a próxima temporada e fixou os preços para 70% do volume esperado em 2021-2022.

"É realmente um grande volume protegido para entrega daqui a dois anos", disse.

Para contatar o editor responsável por esta notícia: Daniela Milanese, dmilanese@bloomberg.net