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China oferece esperança para mercados de carne, diz Cargill

Isis Almeida

24/03/2020 08h57

(Bloomberg) -- Em diversos países, as prateleiras de carne bovina e de aves dos supermercados estão vazias. Mas a Cargill, maior trading de commodities agrícolas do mundo, diz que, quando se olha para a China, há motivos para ser otimista.

Governos têm pedido que a população fique em casa para evitar a propagação do coronavírus. Com isso, consumidores correram aos supermercados em várias partes do mundo e estocaram carne nos congeladores. Mas a demanda de restaurantes tende a cair devido às medidas de bloqueio.

A China enfrentou os mesmos problemas, apenas alguns meses à frente do resto do mundo. Após a corrida aos supermercados que deixou prateleiras vazias e a queda do consumo de carne no setor de restaurantes, a vida começa a voltar ao normal no país asiático, assim como a demanda por carne, disse Brian Sikes, responsável pela divisão de proteína e sal da Cargill.

"Começamos a ver um retorno da demanda na China e isso é encorajador quando pensamos no resto do mundo", disse Sikes.

A unidade de processamento de aves da Cargill na China opera com capacidade de pelo menos 80%, acima dos 30% a 40% durante a pior fase do surto, segundo Sikes. As pessoas estão de volta às ruas e tocando os negócios. Além disso, a China disse agora que permitirá que o transporte seja retomado em Wuhan em 8 de abril, efetivamente encerrando a ampla quarentena na cidade onde surgiu o vírus.

Na América do Norte, ainda há compra motivada por pânico. Os frigoríficos da Cargill operam a plena capacidade e a empresa têm feito mudanças para abastecer supermercados, disse o executivo. Consumidores têm estocado frango, carne bovina e suína, aumentando a demanda de curto prazo, quando cidades como Los Angeles, Chicago e Nova York entram em confinamento e restaurantes fecham na tentativa de conter a pandemia de coronavírus.

"Vimos algumas prateleiras vazias que nós, certamente como norte-americanos e em muitas partes do mundo, não estamos acostumados a ver", disse Sikes. "Nossa expectativa é de que nas próximas semanas haverá um equilíbrio. Isso ocorreu em partes da Ásia, então esperamos que na América do Norte aconteça o mesmo."

Não há falta de proteína, de acordo com Sikes. Prateleiras vazias refletem os obstáculos envolvidos em levar o alimento onde é preciso. Mas os mercados de carne estavam bem abastecidos e estocados antes da pandemia.

Na Europa, onde a Cargill está mais voltada ao fornecimento de restaurantes, o cenário é diferente. A empresa teve que fechar a divisão de aves francesa focada em serviços de alimentação, que é líder no fornecimento de produtos de frango à milanesa para o McDonald's. A empresa também espera impacto do bloqueio no Reino Unido.

A Cargill ainda não projeta queda da demanda geral de carne, já que as compras no varejo ajudam a compensar o menor consumo em restaurantes. Ainda assim, é provável que ocorra uma mudança no tipo de proteína comprada por causa dos impactos econômicos do vírus. As compras de aves e frutos do mar devem aumentar em alguns países onde esses produtos são mais baratos.

A China está muito à frente de outros países e o histórico de epidemias anteriores ajudou o país a responder rapidamente ao vírus, disse Sikes. O país já havia enfrentado o surto da Síndrome Respiratória Aguda Grave, ou SARS, quase duas décadas atrás.

"Os chineses estão mais adiantados, entendem o distanciamento social. Eles passaram por coisas que, de certa forma, os tornam mais preparados do que nós aqui na América do Norte", disse. "Realmente vemos um retorno da demanda."

©2020 Bloomberg L.P.