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Wall Street se afasta de emergentes após perdas recordes

Ben Bartenstein, Sydney Maki e Selcuk Gokoluk

01/04/2020 13h22

(Bloomberg) -- Os mercados emergentes acabaram de fechar um primeiro trimestre difícil. E o temor de Wall Street é que o pior possa estar por vir.

Economias avançadas entraram em confinamento para conter a propagação do Covid-19, o que provocou forte turbulência nos mercados, mas os efeitos da pandemia em países em desenvolvimento ainda não foram totalmente sentidos no aspecto econômico e tampouco no humanitário. É verdade que a alta do dólar, o colapso dos preços das commodities e o aumento dos níveis de dívida distressed levaram a medidas preventivas de estímulo em muitos países, mas o sucesso ou o fracasso delas não será conhecido por algum tempo.

Por isso, não é de admirar que alguns dos principais investidores e estrategistas, como Goldman Sachs, JPMorgan Chase e Franklin Templeton, têm recomendado aos clientes adiar a caça às pechinchas em mercados emergentes. O temor é de que o coronavírus possa devastar países como Índia e Brasil, onde só agora os casos começam a aumentar.

"Os mercados estão descontando uma recessão catastrófica acompanhada de 'defaults' em massa", disse Ricardo Hausmann, economista da Universidade Harvard. "Por mais horrível que isso pareça, é provável que a situação nas economias avançadas seja muito mais benigna do que a que países em desenvolvimento podem enfrentar. Não apenas em termos de impacto da doença, mas também em termos de devastação econômica."

Mercados emergentes são tradicionalmente vistos como voláteis, e talvez não surpreenda que seus ativos mostrem pior desempenho do que de seus pares em economias avançadas dos EUA, Europa e Japão. Mas enquanto bancos como JPMorgan e Morgan Stanley dizem que ações de países desenvolvidos já devem ter atingido o fundo, esse não é o caso de suas contrapartes nos mercados emergentes.

Os mercados acionários do mundo em desenvolvimento acabaram de encerrar o pior trimestre desde a crise financeira de 2008. As moedas caíram com a forte demanda por dólares, liderada por uma depreciação de mais de 20% do real, rand sul-africano e rublo russo. Um amplo indicador de títulos em dólar de mercados emergentes registrou a maior onda vendedora desde 1998.

A queda da demanda por commodities, como petróleo e metais, os gargalos na cadeia de suprimentos e os encargos das dívidas em dólar agravados pela desvalorização das moedas devem aumentar a saída de recursos de mercados emergentes nos próximos trimestres, segundo um modelo do JPMorgan.

"É improvável que essa crise tenha terminado, pois passa de uma fase aguda para uma crônica", disse em relatório Luis Oganes, estrategista do JPMorgan, em Londres.

El-Erian, consultor-chefe de economia da Allianz e colaborador do Bloomberg Opinion, disse que a situação atual tem elementos tanto da Grande Depressão quanto da crise financeira de 2008. Embora o estímulo fiscal do mundo desenvolvido tenha ajudado por enquanto, investidores precisam evitar o risco, disse. El-Erian aconselha vender títulos com nota de crédito mais baixa, ajustar carteiras de ações para favorecer empresas com balanços fortes e reservar mais dinheiro para oportunidades de compra no futuro.

©2020 Bloomberg L.P.