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Argentina pode gastar US$ 880 milhões para ajudar aérea estatal

Jorgelina do Rosario e Carolina Millan

01/06/2020 10h56

(Bloomberg) -- A Argentina talvez tenha que desembolsar pelo menos US$ 880 milhões em subsídios neste ano para manter a companhia aérea estatal em operação, o que pode pesar ainda mais sobre as contas públicas após o nono default soberano do país.

O presidente da Aerolíneas Argentinas, Pablo Ceriani, disse que o déficit de orçamento da companhia, acima dos US$ 680 milhões em 2019, deve persistir até que a demanda se recupere, o que não é esperado por alguns anos. A aérea deve demorar cinco anos depois disso para atingir o ponto de equilíbrio, disse o executivo em entrevista em Buenos Aires.

"Uma das condições para a rentabilidade é a demanda, que não deve se normalizar até 2022", disse Ceriani na sede da empresa no aeroporto Aeroparque Internacional Jorge Newbery. "Planejamos reduzir as perdas estruturais de maneira sustentada a partir de então. Esse é o horizonte razoável nesta situação."

Assim como companhias aéreas no mundo todo, as operações da Aerolíneas Argentinas foram paralisadas pela pandemia de coronavírus. A Argentina implementou algumas das primeiras e mais rígidas medidas na América Latina para impedir a propagação do vírus, como interromper voos comerciais até 1º de setembro. Mas, diferentemente de outras companhias aéreas globais, a Aerolíneas Argentinas está comprometida em enfrentar a crise sem demitir qualquer dos 12 mil funcionários, segundo Ceriani.

"É uma política que visa manter empregos", disse. "Cortar a renda afeta os trabalhadores que já enfrentam uma crise econômica."

Ainda assim, a empresa planeja afastar temporariamente cerca de 7,5 mil trabalhadores em junho e julho, de acordo com uma pessoa com conhecimento direto das conversas com sindicatos. No domingo, a companhia aérea disse que está em negociações avançadas para "reprogramar" pagamentos ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Banco de la Nación Argentina.

Ceriani espera que a atividade comece a se recuperar no segundo semestre de 2021 e retomar investimentos em crescimento após 2022, quando pretende aumentar a frota com aviões de carga de corpo largo com rotas principalmente entre China e EUA como parte de um novo foco no transporte de carga.

Também há o plano de fusão com a companhia aérea irmã Austral Líneas Aéreas, um plano que, junto com o transporte de cargas e nova unidade de manutenção, deve gerar economias de US$ 100 milhões em três anos. A companhia aérea avalia o bloqueio de assentos do meio em todas as cabines, enquanto planeja um retorno seguro às operações, disse o executivo. Retomar os voos para todas as capitais de províncias da Argentina significaria operar com 25% da atividade normal no mercado doméstico. As viagens ao exterior devem ser reinciadas apenas depois de novembro, disse Ceriani.

"Este ano provavelmente será o mais difícil da história da Aerolíneas Argentinas, assim como, provavelmente, será o pior ano da história da aviação", disse.

©2020 Bloomberg L.P.