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Setor de jatos executivos vê retomada mais rápida que após 2008

Thomas Black

08/06/2020 19h17

(Bloomberg) — A aviação privada está melhorando mais rapidamente da pandemia de coronavírus do que após a recessão de 2008, um golpe do qual nunca se recuperou totalmente.

A perspectiva de uma recuperação em forma de V para o setor de jatos executivos é sustentada por uma base pequena de clientes que permaneceram fiéis ao longo de uma década de redução de custos corporativos. Operadores e fabricantes de aeronaves particulares esperam ganhar novos clientes que precisem de uma alternativa às rotas comerciais reduzidas e desejam evitar riscos maiores de contrair o vírus em aeroportos e aviões lotados.

O impacto total da atual desaceleração econômica foi limitado por uma forte onda de pedidos de voos particulares em fevereiro e início de março, quando as pessoas correram para enfrentar os confinamentos da Covid-19 no melhor local para elas. Agora, o setor parece se recuperar mais rápido do que as companhias aéreas comerciais, à medida que as empresas começam a reabrir, disse Mike Silvestro, diretor executivo da Flexjet, que fornece serviços de voos com uma frota de 160 jatos executivos.

Essa crise "é completamente oposta ao que vimos no passado", disse Silvestro. A aviação privada está pronta para a recuperação devido às suas próprias características de oferecer um ambiente mais seguro, mais familiar e mais limpo, disse ele.

Os números iniciais são animadores. A expectativa é de uma baixa de 27% neste mês em relação ao mesmo período do ano anterior e de recuperação aos níveis pré-vírus em um ano, disse Travis Kuhn, vice-presidente de inteligência de mercado da Argus International, que fornece dados de aviação. Isso ocorre depois de baixas de 72% em abril e 49% em maio no setor.

Enquanto isso, o número de passageiros de companhias aéreas comerciais despencou 90% em maio, segundo a Transportation Safety Administration. As operadoras já estão alertando os investidores de que a demanda pode demorar anos para retornar aos níveis pré-vírus. As companhias aéreas estão diminuindo para sobreviver, o que significa menos voos e menos opções para os viajantes.

Jatos executivos são vistos na aviação como o equivalente a dirigir um carro pessoal, em vez de pegar um trem. Isso fornece um fator de segurança que pode se tornar um ponto-chave de vendas, de acordo com Eric Martel, CEO da Bombardier.

"Essa é uma reflexão que estamos fazendo, se a Covid trará claramente novas necessidades", disse Martel em maio. Os jatos executivos se tornam provavelmente uma solução mais segura do que os aviões comerciais, disse ele.

As viagens aéreas privadas, que foram ao fundo do poço durante a última recessão em 2009, nunca recuperaram os níveis de expansão de 2007. Isso foi pior para os fabricantes. As entregas anuais de novos jatos particulares caíram por cinco anos, de um pico de mais de 1.300 em 2008. No ano passado, um dos melhores anos desde a crise financeira, a indústria entregou 809 jatos, de acordo com a General Aviation Manufacturers Association.

Perspectivas

Em 2020, estima-se que as entregas de novas aeronaves tenham uma redução de 30% ou mais em relação ao ano passado. Indústrias do setor, incluindo a Gulfstream, da General Dynamics, e Cessna, da Textron, diminuiram a produção. A unidade de jatos executivos da Bombardier está cortando cerca de 4% de sua força de trabalho, de quase 60.000 funcionários. NetJets, uma operadora de jatos executivos de propriedade da Berkshire Hathaway, cancelou pedidos e a Flexjet adiou a aquisição de novas aeronaves.

A contração brutal do setor na última recessão deixou um núcleo fiel de clientes que vai ancorar uma recuperação, dizem especialistas do mercado. Essa base deverá ser reforçada pela chegada de novos clientes, que vão trocar a aviação comercial pela privada. "Você verá também novos compradores de jatos", disse Neil Book, diretor executivo da Jet Support Services, que possui contratos de manutenção para cerca de 2.000 aeronaves particulares.

©2020 Bloomberg L.P.