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Excesso de diesel pode minar recuperação de preços do petróleo

Jack Wittels, Jeffrey Bair e Elizabeth Low

09/06/2020 14h52

(Bloomberg) -- Em meio ao burburinho em torno da extensão dos cortes de produção da Opep+, os mais profundos da história, é fácil deixar passar sinais ameaçadores aos preços do petróleo - e à economia em geral - enviados pelo mercado de diesel.

Os maiores produtores de petróleo do mundo concordaram no sábado que estenderiam os limites coletivos da produção, retirando efetivamente 10% da oferta do mercado por mais um mês. Embora as medidas possam reduzir a oferta no mercado global de petróleo, potencialmente elevando os preços, quase não têm efeito sobre as magras margens das refinarias ao vender diesel, um dos derivados de petróleo mais importantes.

"O mundo está inundado de diesel", disse Alan Gelder, vice-presidente de mercados de mercados de refino, produtos químicos e petróleo da consultoria Wood Mackenzie.

Além da Europa, onde o diesel é muito usado em carros, o combustível também é amplamente consumido pela indústria: como no transporte de mercadorias, construção e agricultura.

E embora a demanda tenha mostrado forte recuperação na Ásia - em particular na China - desde o início da pandemia de coronavírus, os mercados na Europa e nos EUA são pouco impulsionados pelo aumento das compras on-line e entregas. Com a recessão, houve um impacto muito maior na quantidade de carga sendo movimentada.

O maior problema agora, no entanto, é a oferta. As refinarias - principalmente na Europa e nos EUA - tentam produzir o mínimo possível de combustível de aviação, porque a demanda do setor ainda permanece muito abaixo do nível antes da pandemia. E isso significa produzir mais diesel. Da mesma forma, as refinarias não conseguem atender à recuperação do consumo de gasolina sem aumentar as taxas gerais de processamento, e isso também gera mais diesel.

Nos EUA, onde o período de consumo é sazonalmente fraco, o fornecimento de diesel, principal medida de demanda, atingiu o menor nível semanal em 21 anos na semana passada, caindo para apenas 2,72 milhões de barris por dia, de acordo com a Administração de Informação de Energia. Ao mesmo tempo, os estoques cresceram por nove semanas seguidas, atingindo o patamar mais alto desde 2010.No início da pandemia, o diesel era um dos poucos pontos positivos nos mercados de petróleo. O segmento de caminhões ainda funcionava a toda velocidade para estocar supermercados. Agora, as margens de produção do combustível nos EUA estão perto da mínima em 10 anos.

"O ponto positivo mudou do diesel para a gasolina", disse Stephen Jew, diretor de refino e marketing global da IHS Markit. "As refinarias são movidas pelo lucro e podem se adaptar rapidamente, e sempre tentarão encontrar o ponto positivo. Vão buscar a gasolina."

©2020 Bloomberg L.P.