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Lojas duty free fechadas contribuem para excesso de chocolate

Marvin G. Perez e Isis Almeida

25/06/2020 12h23

(Bloomberg) — Quando a analista de commodities Judy Ganes passou 36 horas voando de volta à casa após uma viagem de negócios à Ásia, o que ela não viu foi o que mais a marcou.

Nos quatro aeroportos pelos quais passou, Ganes não encontrou quase nenhuma praça de alimentação ou lojas duty free abertas. Nada de globos de neve. Nada de camisetas. Nada de bebidas especiais. E, talvez, o mais importante: nenhum Toblerone e outros chocolates especiais que são onipresentes em terminais internacionais.

A experiência de Ganes destaca o desafio enfrentado por vendedores não apenas de doces, mas também de destilados, com o setor de aviação ainda afetado pela relutância de algumas pessoas em voar e restrições de viagens em alguns países. A queda das vendas isentas de impostos exacerbou a desaceleração econômica global que abalou o mercado de chocolate, que movimenta US$ 107 bilhões, o que contribuiu para transformar o déficit global em excesso.

"Não há dúvida de que o vírus impactou o setor duty free em geral e o chocolate foi atingido", disse Michael Payne, presidente da Associação Internacional de Lojas Duty Free de Aeroportos. "Se você não tem voos internacionais e não espera que voltem tão rapidamente quanto os voos domésticos, esse problema continuará."

Havia 471.421 passageiros de companhias aéreas nos Estados Unidos em 23 de junho, em comparação com 2,51 milhões no mesmo dia da semana do ano anterior, segundo a Transportation Security Administration.

Em sua jornada de Palau, na Micronésia - onde ficou presa por dois meses depois que o país impôs bloqueios para impedir a propagação do coronavírus -, para Newark, Nova Jersey, Ganes viu poucos sinais de vida.

"Em Honolulu, havia uma loja de presentes aberta para comprar macadâmia com cobertura de chocolate, alguns livros e jogos infantis ...", disse Ganes. "Em São Francisco, tudo fechado. Em Newark, a única coisa aberta era um lugar para pagar e levar que tinha uma prateleira com batatas fritas e balas com 50% de desconto."

O Fundo Monetário Internacional rebaixou as perspectivas para a economia mundial, sinalizando um novo impacto no consumo de cacau, que tende a acompanhar de perto o PIB. Os problemas da demanda representam outro golpe para processadores de grãos de cacau, que já enfrentam custos crescentes, em parte devido às iniciativas de sustentabilidade na África Ocidental, que representam cerca de dois terços do suprimento mundial.

A Mondelez International disse em abril que sua divisão de varejo de viagens global deve registrar quedas significativas. A empresa disse anteriormente que as viagens representam cerca de 30% da demanda por Toblerone.

A Brown-Forman, fabricante do uísque Jack Daniels, disse em teleconferência sobre o balanço em 9 de junho que seu segmento de varejo de viagens global, que inclui vendas duty free, mostrava queda de cerca de 65%.

Mas há pontos positivos. A Hershey, cujas marcas como Hershey's, Kisses, Reese, Brookside e BarkThins estão disponíveis em lojas duty free de aeroportos no mundo inteiro, vê uma mudança que está ajudando a empresa a enfrentar a crise.

"A desaceleração das viagens aéreas certamente impactou varejistas que operam dentro dos aeroportos", disse Jeff Beckman, porta-voz da empresa, por e-mail. "Mas, como a Covid mudou o modo de vida das pessoas, observamos volumes migrarem para outras áreas do varejo e outros tipos de pacotes, como sacolas maiores para levar para casa, comércio eletrônico, panificação em casa e produtos de cozinha."

Ainda assim, a demanda fraca deve contribuir para reverter o déficit global há um ano para um excedente de mais de 300 mil toneladas, de acordo com Eric Bergman, vice-presidente da JSG Commodities, em Connecticut.

©2020 Bloomberg L.P.