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Covid pode não ser fim de dinheiro em espécie, diz estudo

Catherine Bosley

02/07/2020 10h25

(Bloomberg) -- As pessoas parecem estar acumulando dinheiro em espécie em meio à pandemia de coronavírus, segundo um estudo que procura desfazer a noção de que o surto está acelerando o fim do papel-moeda devido ao comércio eletrônico ou temor de infecção.

Relatos de consumidores de economias avançadas sugerem um afastamento decisivo do papel-moeda. As medidas de isolamento social têm aumentado as vendas online e mais lojas aceitam apenas pagamentos com cartão. Mas dados citados por Charles Goodhart, ex-diretor do Banco da Inglaterra, e pelo coautor do estudo, Jonathan Ashworth, mostram forte aumento de cédulas em circulação nos EUA, Canadá, Itália, Espanha, Alemanha, França, Austrália, Brasil e Rússia.

Embora alguns analistas argumentem que parar de utilizar completamente dinheiro em espécie ajudaria a economia global a se tornar mais eficiente, uma interrupção abrupta prejudicaria pessoas sem acesso ao sistema bancário. Também representaria um desafio para pequenas empresas para as quais os custos de se tornarem digitais são muito caros.

"Embora as paralisações econômicas e o maior uso do varejo online atualmente estejam diminuindo a função tradicional do dinheiro como meio de troca, parece que isso está sendo mais do que compensado pela acumulação de notas provocada pelo pânico", escreveram Goodhart e Ashworth em artigo para o Centro para Pesquisa de Política Econômica.

"Na verdade, o dinheiro em circulação vem crescendo muito", escreveram.

Os resultados contradizem a visão de Gary Cohn, ex-assessor econômico do presidente dos EUA, Donald Trump, que argumentou recentemente que o vírus estava acelerando o desaparecimento do papel-moeda.

É fácil ver por que essa previsão pode ser atraente. O uso do papel-moeda está em queda em alguns países há anos, devido à expansão de cartões de crédito e aos desenvolvimentos tecnológicos que levaram ao aumento dos pagamentos via celular. Segundo relatório de pesquisa do HSBC divulgado em abril, a mudança devido trazida pelo menor uso de notas é a "aceleração de uma tendência já em andamento".

Michele Bullock, diretora-assistente do banco central da Austrália, disse em discurso no mês passado que, embora o dinheiro continue sendo importante, a Covid-19 pode ser o "disruptor definitivo" do sistema de pagamentos. Os saques em caixas eletrônicos na Austrália caíram 30% em abril em comparação com o mês anterior, disse.

Mas os dados citados pelo Banco de Compensações Internacionais reforçam as conclusões de Goodhart e Ashworth, mostrando que o aumento das transações digitais durante a pandemia não ocorreu necessariamente em detrimento do modelo tradicional.

"As reservas de dinheiro por precaução aumentaram em algumas economias, mesmo com a redução das transações diárias", afirmou.

©2020 Bloomberg L.P.