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YouTubers negros questionam exclusão do YouTube Kids

Mark Bergen e Lucas Shaw

09/07/2020 11h58

(Bloomberg) — Cerca de um ano atrás, Zerius Zontay descobriu que o trabalho da família dele não estava mais no YouTube Kids. Ele e a esposa, Symphony, publicam regularmente vídeos curtos nessa gigantesca plataforma, mostrando seus três filhos brincando, cantando e fazendo graça.

Zontay queria colocar os vídeos de volta no aplicativo do YouTube dedicado a crianças. É para lá que o website procura direcionar os espectadores com menos de 13 anos. Durante meses, Zontay pressionou o YouTube, enviando repetidos e-mails para os gestores de comunidades, sem sucesso.

Em junho, quando os protestos contra má conduta policial estimularam uma conversa nacional nos EUA sobre racismo, a frustração dele aumentou.

"Estou vendo o YouTube promovendo o movimento Black Lives Matter, mas com o aplicativo Kids, eles mostram que determinadas crianças não importam", disse Zontay, que já foi professor de música. "É preciso rolar a tela por muito, muito, muito tempo antes de chegar a um rosto negro."

Nos últimos anos, o YouTube foi intensamente questionado pela forma como lida com conteúdo infantil, tanto por permitir que muitos menores de idade usem o site principal quanto por permitir programação danosa no aplicativo Kids.

Em 2017, o YouTube publicou um guia prático para criação de conteúdo familiar e começou a restringir mais tipos de programação no aplicativo. No ano passado, o canal da família Zontay desapareceu do YouTube Kids em um período em que o site removia milhares de canais para tentar retirar conteúdo inapropriado do aplicativo.

Procurado pela reportagem, um porta-voz do YouTube enviou um comunicado como resposta: "Estamos comprometidos em apoiar e amplificar criadores negros no YouTube Kids e lançamos iniciativas de programação destinadas a destacar a igualdade, a justiça racial e o ativismo para crianças de diferentes idades, mas reconhecemos que há mais a ser feito."

O YouTube ? parte do Google, da Alphabet ? se apresenta como equalizador no mundo da mídia, permitindo que qualquer pessoa faça o upload de vídeos e ganhe audiência. Mas alguns dos produtores de vídeos do YouTube dizem que a empresa não faz o suficiente pela diversidade. Em junho, quatro YouTubers negros processaram a empresa por discriminação racial, alegando que o serviço removeu automaticamente seus vídeos. O YouTube afirma que não discrimina e que o processo não tem mérito.

Em 11 de junho, o YouTube anunciou um novo fundo de US$ 100 milhões para criadores negros.

A falta de clareza sobre as recomendações, as regras e o processo de moderação de conteúdo do YouTube é motivo frequente de frustração entre os usuários. Os funcionários do YouTube não selecionam os vídeos nem os criadores de conteúdo que são destacados. Em vez disso, o software destaca a programação com base nos hábitos de visualização.

Melanie, que pediu que a Bloomberg News não revelasse seu sobrenome por motivos de privacidade, é proprietária do canal familiar CrayCrayFamilyTV e conta que enfrentou problemas igualmente intrigantes. Vídeos de suas duas filhas, Naiah e Eli, foram removidos do YouTube Kids sem explicação enquanto os vídeos que a família criou com bonecos permaneceram no aplicativo.

Ela suspeita do algoritmo do YouTube, que destacaria vídeos semelhantes de famílias com perfil racial diferente. "É mais digerível ver famílias muito brancas em ação", ela disse. "É uma pena."

Uma porta-voz da empresa disse à Bloomberg News que alguns canais foram removidos porque vários de seus vídeos ? mostrando o consumo excessivo de junk food ou "pegadinhas em que as crianças estavam angustiadas" ? não eram "enriquecedores ou apropriados" para essa faixa etária. Segundo a companhia, muitos desses canais "ajustaram" seu conteúdo desde então e, sendo assim, voltariam ao aplicativo Kids. O YouTube não especificou quais canais teriam violado as regras.

©2020 Bloomberg L.P.