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Nações caribenhas vendem passaporte adicional com desconto

Ezra Fieser e Jim Wyss

10/07/2020 11h05

(Bloomberg) -- Nações do Caribe estão com orçamentos tão apertados após a pandemia massacrar suas indústrias de turismo que os governos começaram a oferecer enormes descontos na venda de passaportes para estrangeiros ricos.

Há muito tempo, diversas ilhas da região têm programas de "cidadania por investimento", como forma de complementar recursos em moedas fortes recebidos do turismo. Com seus hotéis e praias paradisíacas quase vazios, negócios não convencionais subitamente ganharam importância.

São Cristóvão e Névis, nação formada por montanhosas ilhas gêmeas onde vivem 53.000 habitantes, foi uma das primeiras a reduzir preços. Sob uma oferta especial válida até o final do ano, uma contribuição de US$ 150.000 para o Fundo de Crescimento Sustentável do país dá direito a passaportes para uma família de quatro pessoas. É 23% menos do que o preço normal de US$ 195.000. Outras ilhas da região, incluindo Dominica e Antígua e Barbuda, estão com propostas até mais baratas.

"Nesses tempos de Covid, quando o turismo não acontece, precisamos encontrar maneiras de gerar receita para sustentar nossa economia", explicou Les Khan, CEO da Unidade de Cidadania por Investimento de São Cristóvão e Névis, em entrevista por telefone.

Santa Lúcia, Granada, Antígua e Barbuda e Dominica também fizeram alterações para atrair clientes, segundo Khan. Em alguns casos, a cidadania é oferecida por apenas US$ 100.000.

Desde que São Cristóvão inaugurou essa indústria na década de 1980, a cidadania por investimento virou um negócio de bilhões de dólares, proporcionando a clientes ricos uma saída para as restrições de viagem impostas sobre os passaportes de seus países de origem, além de ajudá-los a se preparar para emergências.

"Os clientes enxergam essas opções de cidadania como ferramentas de gestão de volatilidade e gestão de riscos", disse Paddy Blewer, diretor do escritório britânico da consultoria Henley & Partners, sediada em Londres, especializada em questões de cidadania e residência.

Na opinião dele, as consequências da Covid-19 ressaltaram o valor de um segundo passaporte, após governos da Europa e outros lugares determinarem restrições para pessoas que normalmente viajam sem visto, como os cidadãos dos EUA.

Clientes chineses

Durante a pandemia, Khan observou aumento no interesse por parte de clientes da China e do Oriente Médio, mas a agência dele não divulga estatísticas.

O passaporte de São Cristóvão e Névis permite viagens sem visto para mais de 100 países, incluindo Reino Unido e Itália. A cidadania também pode ser adquirida por meio da aquisição de imóvel.

A indústria de segundo passaporte está na mira das autoridades nos EUA. O Departamento de Estado criticou Dominica no ano passado, alegando relaxamento no processo de diligência para aprovação de solicitações. Em 2014, o Tesouro americano pressionou São Cristóvão a aumentar o rigor de seu processo de verificação, depois que cidadãos iranianos supostamente usaram passaporte da ilha para escapar das sanções dos EUA.

De acordo com Khan, seu governo tem uma abordagem rigorosa e clientes do Irã e do Afeganistão atualmente não podem participar do processo.

©2020 Bloomberg L.P.