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Americanos resgatam hábitos alimentares antigos na pandemia

Nic Querolo e Elizabeth Rembert

16/07/2020 12h59

(Bloomberg) — Os americanos mudaram rapidamente a maneira como compram, cozinham e comem alimentos em apenas quatro meses, deixando todos, de agricultores a restaurantes, sem direção.

Os consumidores norte-americanos, cujas preferências alimentares anteriores eram estáveis o suficiente para que os agricultores pudessem tomar decisões confiáveis de plantio com anos de antecedência, mudaram seus hábitos em um ritmo torrencial durante a pandemia de coronavírus. Isso inclui cozinhar mais em casa, comprar mais comida orgânica, fazer compras em grandes quantidades, deixar de lado guloseimas e comer refeições menores com a redução das idas a restaurantes que geralmente oferecem porções grandes demais.

Mesmo uma dessas mudanças, por si só, poderia provocar alterações na cadeia global de oferta de alimentos. Alguns fornecedores estão descobrindo que não conseguem se adaptar rápido o suficiente para acompanhar todas as mudanças nas demandas dos consumidores. Fazendeiros como Jack Vessey, produtor de alface na Califórnia, foram forçados a destruir colheitas após a demanda de restaurantes secar, enquanto a Mondelez International está reduzindo a oferta de seus produtos em 25% para simplificar a logística.

"Toda a cadeia de suprimentos de alimentos foi colocada de cabeça para baixo", disse Kevin Kenny, diretor de operações da Decernis, especialista em segurança global de alimentos e cadeias de suprimentos. "Ninguém pode realmente fazer uma autópsia porque ainda estamos no meio disso."

As maneiras pelas quais os americanos estão mudando seus hábitos alimentares não são apenas múltiplas e significativas - elas também são potencialmente permanentes.

Quase um terço dos adultos norte-americanos dizem que planejam cozinhar em casa ainda mais do que agora. Mais de um quarto deles comprou itens a granel com mais frequência, de acordo com pesquisa com 2.200 americanos realizada pela Bloomberg News e Morning Consult. As marcas também caíram em desuso, já que 23% dos entrevistados disseram que compravam marcas genéricas ou de lojas com mais frequência. De fato, 16% dos americanos planejam comprar itens de marca própria ou a granel com mais frequência quando a pandemia terminar do que antes dos bloqueios.

À medida que os consumidores cozinham mais em casa, aumentando as vendas de supermercados, eles se afastam dos restaurantes, o que tem grandes implicações em como os fornecedores empacotam e vendem suas carnes e produtos. As porções dos restaurantes são maiores, e carne, queijo e manteiga, em particular, são consumidos em maiores quantidades, mas também os legumes.

Antes da pandemia, os americanos gastavam mais da metade de seus orçamentos alimentares em refeições fora de casa. Nos próximos 12 meses, 70% dos consumidores planejam diminuir significativamente os gastos em restaurantes, de acordo com uma pesquisa do Bank of America.

Isso representa más notícias para os agricultores que já sofreram com preços baixos e com a guerra comercial com a China nos últimos anos.

Vessey, agricultor de quarta geração na Califórnia, é um produtor que se viu no meio da mudança. Ele foi forçado a destruir cerca de US$ 1,5 milhão em alface após os lockdowns implementados em março. Cerca de metade de sua colheita geralmente é direcionada para serviços de alimentação, e ele não conseguiu redirecionar a oferta durante o fechamento dos restaurantes.

"Não queremos fazer isso de novo", disse Vessey.

©2020 Bloomberg L.P.