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Abate de gado no Uruguai pode cair para menor nível em 17 anos

Ken Parks

13/08/2020 10h54

(Bloomberg) -- O abate de gado no Uruguai, produtor-chave que se tornou conhecido por seus bovinos sem hormônios e alimentados com capim rastreável, pode cair para o nível mais baixo em 17 anos em meio à queda do rebanho e das exportações.

É o que afirma Eduardo Urgal, diretor da Ontilcor, 6º maior frigorífico em abates do país. Os frigoríficos uruguaios enfrentam escassez de gado. Dados do governo mostram que pecuaristas enviaram mais de 500 mil animais para unidades de abate no Oriente Médio nos últimos anos, disse. O rebanho também encolheu após anos de taxas de abate constantes para atender à demanda insaciável da China por carne bovina.

"Com um pouco de sorte, vamos abater 1,9 milhão de cabeças, 15% menos do que no ano passado", disse Urgal.

Isso deve agravar o excesso de capacidade no setor, que pode processar cerca de 3 milhões de cabeças por ano. Os frigoríficos precisam processar mais carne ou correm risco de perder terreno nos EUA e na Ásia, onde alguns clientes exigem volumes que o país não pode fornecer facilmente, disse Urgal.

"O Uruguai continua com restrições de acesso a alguns clientes, principalmente nos Estados Unidos, porque não tem volume", afirmou.

Ainda assim, o ritmo de abate pode se recuperar no próximo ano e em 2022, atingindo cerca de 2,3 milhões de cabeças. Com a boa temporada, pecuaristas podem elevar o rebanho em 400 mil animais somente neste ano, disse.

Após atingir o pico de quase 12 milhões de cabeças em 2016, o rebanho do Uruguai caiu para o menor nível em oito anos, para pouco menos de 11,2 milhões de animais em 2019 devido principalmente ao comércio de boi vivo.

Estudo recente estimou a produção potencial da indústria de carne bovina em 3,5 milhões de bezerros e o abate em 3 milhões de cabeças por ano, o que poderia ser alcançado ao longo da próxima década se os frigoríficos puderem vender mais carne ao exterior, disse Urgal.

Isso significa que o setor precisa de acordos comerciais que permitam acesso a países como Malásia para a carne uruguaia e tarifas mais baixas nos EUA, Japão e Coreia do Sul, para que frigoríficos possam oferecer incentivos financeiros a pecuaristas que queiram aumentar seus rebanhos, destacou.

A carne bovina liderou as exportações do Uruguai em valor no ano passado, com US$ 1,8 bilhão, mas as tarifas totalizaram US$ 205 milhões, segundo dados do governo. Além das barreiras tarifárias, frigoríficos pagam entre 30% e 35% a mais pelo gado do que concorrentes na Argentina e no Brasil, disse Urgal.

"Isso não é sustentável a ponto de o Uruguai não conseguir gerar melhores vendas", explicou. "Para melhorar as receitas, precisamos de melhores acordos comerciais."

©2020 Bloomberg L.P.