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UE pode não chegar a acordo sobre recuperação econômica, diz Merkel

A chanceler da Alemanha, Angela Merkel - Sean Gallup - 30.abr.2020/Getty Images
A chanceler da Alemanha, Angela Merkel Imagem: Sean Gallup - 30.abr.2020/Getty Images

19/07/2020 10h27

A chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, alertou neste domingo (19/07) que os líderes da União Europeia (UE) podem não chegar a um acordo sobre o controverso plano de recuperação multibilionário pós-pandemia e o orçamento de longo prazo para a economia do bloco.

"Ainda não posso dizer se encontraremos uma solução", disse Merkel, depois de a cúpula ter sido mais uma vez adiada e entrado em seu terceiro dia neste domingo. "Há muita disposição, mas existem muitas posições diferentes. É possível que não haja resultado hoje."

Em Bruxelas, chefes de governo e de Estado dos 27-países-membros deliberam oficialmente tanto sobre o fundo de ajuda para após a crise do coronavírus, no valor de 750 bilhões de euros, como sobre o orçamento da UE até 2027, totalizando 1,1 trilhão de euros. Trata-se do primeiro encontro dos líderes europeus cara a cara desde o início da pandemia, em março.

Após dois dias de negociações sem consenso, ainda permanecem impasses entre os governantes sobre quais condições devem ser atribuídas ao pagamento dos subsídios do fundo de recuperação, destinado a ajudar os países europeus a reparar os danos causados pela crise da covid-19.

Mais otimista que Merkel, o presidente da França, Emmanuel Macron, disse acreditar na possibilidade de uma solução. "Estes são os principais assuntos que temos diante de nós e para os quais devemos encontrar os compromissos certos nas próximas horas. Acho que ainda é possível, mas há um risco", afirmou neste domingo.

Já o primeiro-ministro da Grécia, Kyriákos Mitsotákis, disse esperar que os líderes consigam superar as diferenças neste domingo e concordar com um estímulo econômico para impulsionar o crescimento do bloco após a pandemia. "Estamos enfrentando uma crise econômica sem precedentes e simplesmente não podemos nos dar ao luxo de parecer divididos ou fracos."

No sábado à noite, uma autoridade da UE informou - em condição de anonimato, já que as negociações estão em andamento - que o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, anfitrião da reunião, estava "amarrando algumas pontas soltas" ao longo da noite a fim de encontrar uma solução e ter uma nova proposta para apresentar aos líderes europeus neste domingo.

O porta-voz do Conselho Europeu Barend Leyts afirmou, também na noite de sábado, que a cúpula na capital da Bélgica seria retomada às 12h (hora local, 7h em Brasília) deste domingo.

O maior ponto de discórdia está no tamanho do pacote de recuperação, enquanto Holanda, Áustria, Dinamarca, Suécia e Finlândia defendem fundo e parcelas de subsídios menores. Eles exigem que quaisquer empréstimos ou doações só sejam pagos mediante condições rigorosas, cujo cumprimento deve ser "absolutamente garantido", por exemplo, através de resoluções unânimes.

Prováveis receptores, como Itália, Espanha e Grécia, rejeitam essa visão. Para o premiê italiano, Giuseppe Conte, não é aceitável a exigência holandesa de um veto dos pagamentos.

Alemanha e França também pressionam por um pacote ambicioso de empréstimos e subsídios aos Estados-membros e têm pedido repetidamente por um compromisso dos outros países.

As tensões aumentaram na noite de sábado, quando Merkel e Macron se levantaram e saíram de uma reunião. A aliança franco-alemã é vista como vital para qualquer grande acordo dentro do bloco de 27 países.

Questionado sobre o ocorrido, o primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, afirmou: "Eles fugiram de mau humor. Vamos continuar amanhã." Mas manteve a esperança: "O fato de continuarmos negociando mostra que todos estamos otimistas. Mas se teremos sucesso, precisamos esperar para ver."

O chanceler federal da Áustria, Sebastian Kurz, acrescentou: "Como era de se esperar, é claro que é uma disputa difícil, uma negociação difícil, mas estamos caminhando na direção certa, e isso é o mais importante."

No sábado, um plano revisado havia sido apresentado aos líderes a fim de tentar romper o impasse do primeiro dia de reunião. A proposta previa, por exemplo, uma redução na parcela dos subsídios concedidos aos países da UE, bem como um "freio de emergência" no desembolso de fundos. Mas ele também não foi suficiente para se alcançar um consenso entre os governantes.

Há muito em jogo na primeira cúpula presencial entre os líderes europeus desde que a pandemia foi declarada. O bloco enfrenta a pior recessão de todos os tempos, e os países precisam de dinheiro rapidamente para sustentar suas economias abaladas pela crise do coronavírus. Estima-se que a economia do bloco sofra uma contração de 8,3% neste ano, segundo as últimas previsões.

Grandes esperanças recaem sobre Merkel, como chefe de governo há mais tempo no cargo e que já participa pela terceira vez de negociações sobre o orçamento da UE. Ela também ocupa atualmente a presidência rotativa do Conselho Europeu.