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América Latina economiza pouco e mal, o que afeta crescimento, diz relatório

14/06/2016 17h16

Santiago, 14 jun (EFE).- Na América Latina, pessoas físicas e jurídicas, além dos governos, economizam pouco e mal, e isso restringe as possibilidades de crescimento da região, segundo um relatório do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) divulgado nesta terça-feira (14) em Santiago.

"A América Latina e o Caribe enfrentam uma crise de poupança, com realidades tributárias e demográficas que apontam para um futuro difícil", afirma este estudo.

A taxa de poupança nacional na América Latina e no Caribe entre 1980 e 2014 foi de apenas 17,5% do Produto Interno Bruto (PIB), muito abaixo dos 33,7% registrados nas economias emergentes da Ásia e dos 22,8% das economias avançadas.

Somente a África Subsaariana registrou poupança inferior, com 13,8%, segundo o documento, intitulado "Economizar para se Desenvolver: Como a América Latina e o Caribe Podem Economizar Mais e Melhor".

"A região terá grandes desafios fiscais nos próximos anos", prevê o órgão, que garante que "aumentar as poupanças seria uma das chaves para garantir tanto o crescimento como o fortalecimento das economias".

O estudo analisa os motivos do baixo nível de poupança registrado por pessoas físicas e governos e seus impactos econômicos, assim como a falta de eficiência que limita as oportunidades de investimento das empresas e que incide negativamente sobre a economia empresarial.

"Pequenos incrementos nas poupanças poderiam levar a impactos significativos. Por exemplo, para cada ponto percentual adicional de poupança nacional, o investimento interno da região cresce em quase 0,4 ponto percentual", afirma o BID.

"Isto equivale a US$ 20 bilhões adicionais disponíveis para financiar projetos de infraestrutura ou outros investimentos em capital humano necessários para aumentar a igualdade e fortalecer o desenvolvimento", acrescenta.

Bancos na América Latina

Embora o sistema bancário na América Latina tenha crescido e represente quase 30% do PIB em empréstimos ao setor privado, está muito abaixo da média da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos (OCDE) e das economias emergentes da Ásia, onde contribui com cerca de 80%.

Além disso, as famílias, especialmente as de menores recursos, possuem um limitado acesso a instrumentos financeiros de poupança ou enfrentam altos custos.

"O problema se vê acrescentado pela pouca confiança nos bancos, um analfabetismo financeiro generalizado e a grande informalidade laboral", adverte o estudo.

Apenas 16% dos adultos na região poupa em bancos, enquanto 40% o fazem nas economias emergentes da Ásia e 50% nos países avançados.

Previdência

Os sistemas previdenciários representam outra restrição, já que menos da metade da população da região economiza para sua aposentadoria através de um sistema previdenciário contributivo.

Neste sentido, o relatório alerta que, a menos que este problema seja corrigido, a situação piorará à medida em que a população envelheça.

Os investimentos na região devem aumentar durante décadas entre 2 e 4 pontos percentuais do PIB anual (dependendo de cada país) para aliviar as limitações ao crescimento, ou entre US$ 100 bilhões e US$ 200 bilhões anuais.

As políticas fiscais também tiveram um grande impacto sobre a poupança, considera o relatório, que indica que "os gastos públicos são muito elevados em subsídios e baixos demais em investimentos de capital".

"Os declives econômicos recentes pioraram esta situação, já que os governos optaram por cortar as despesas de investimento como substituição a reformas tributárias politicamente mais difíceis", afirma.

Gasto mais eficiente

O documento identifica áreas-chave nas quais os governos poderiam economizar mais e gastar de maneira mais eficiente. Assistência social, despesas tributárias (isenções fiscais) e subsídios energéticos sofrem as diferenças mais proeminentes, entendendo por isto que acabam beneficiando mais os ricos do que os pobres, por um montante de aproximadamente US$ 100 bilhões por ano.

A falta de eficiência em matéria de saúde e educação representa outros US$ 50 bilhões anuais.

Se este problema fosse solucionado, haveria recursos suficientes para fechar a lacuna de investimento em infraestrutura que existe entre a América Latina e as economias avançadas.

Além disso, os governos da região enfrentam dificuldades na hora de arrecadar impostos, com uma evasão estimada de 52% da arrecadação potencial, amém de possuírem uma estrutura de impostos que penaliza a poupança.