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China aposta em vinho produzido "nas alturas" para expandir seu mercado

Getty Images
Imagem: Getty Images

Paloma Almoguera

24/06/2016 06h01

Danba (China), 24 jun (EFE).- Consolidado como o segundo país com maior superfície de vinhedos do mundo depois da Espanha, a China tenta há anos produzir vinho para o mercado internacional. Sem conseguir, por enquanto, atingir o objetivo, os chineses receberam outro título: dispor da única caverna de alta altitude para reprodução.

"A caverna já existia antes, mas nós a utilizamos desde 2007", contou a um grupo de jornalistas Xiao Xiao, funcionária da vinícola que trabalha como guia, mostrando o contraste entre as modernas instalações de fermentação e o ar rústico da cavidade onde o vinho é conservado durante pelo menos dois anos antes ser engarrafado.

Com a evidente intenção de estabelecer um ar de misticismo ao local, a jovem acrescentou que antes meditava ali um "Buda vivente", como os budistas chamam as pessoas que se consideram reencarnações do sábio.

Sendo verdade ou jogada comercial, várias pinturas e altares budistas decoram hoje as paredes e os cantos da caverna.

Em tom mais prosaico, o engenheiro da adega, Zhang Jin, destacou que, graças à temperatura e à umidade constantes da caverna (entre 13 e 15 graus), o "sabor do vinho fica mais equilibrado", com um volume de álcool de 12 graus.

Vendido sob a marca "Kangding Hong" por preços que oscilam entre US$ 15 e US$ 260, o vinho é elaborado a partir de mudas de videira importadas da França e em menor escala da Espanha, sobretudo as uvas Cabernet Sauvignon e Merlot, que cultivam em vinhedos próprios e em plantações de agricultores autóctones.

O objetivo, ressaltou Zhang, é dar emprego à população local, em sua maioria tibetana e dependente da agricultura, pecuária e mineração como fonte de renda.

No entanto, alguns moradores ainda preferem cultivar produtos mais tradicionais. É o caso de San Bu Chang Bao, que tinha um pequeno vinhedo até que um deslizamento de terra, muito frequente nesta região, terminou com a plantação.

"De todas as formas, prefiro plantar vegetais ou tubérculos, com os quais se consegue dinheiro mais facilmente, já que são vendidos diretamente no mercado", disse o tibetano Chang Bao, que não descarta voltar ao negócio do vinho, já que tem a seu favor o clima moderado e as terras férteis de Danba.

Agricultura

O gerente da vinícola, Ma Yung, afirmou que eles têm cerca de 150 empregados da região e um total de 3.960 famílias de Danba e de outros municípios vizinhos envolvidas no projeto das autoridades locais que é "tentar substituir a mineração tradicional pela agricultura avançada".

Nos últimos anos aconteceram vários protestos da população local contra a poluição ambiental causada pela mineração em Ganzi, onde existem mais de 30 grandes depósitos minerais e até 70 tipos de recursos minerais.

O último ocorreu no início do mês de maio, quando mais de 100 tibetanos protestaram na cidade de Lhagang, para pedir o fechamento de uma mina que estaria causando a morte de milhares de peixes de rios próximos.

Sem querer entrar em polêmicas, Ma disse à Agência Efe que o projeto ajuda a preservar a qualidade do meio ambiente e a cultura de Danba, conhecido como "o vale formoso" da China, e que a empresa, Vinho Tinto de Kangding, ainda tem uma ligeira taxa de lucro de 3% e mais planos maiores em vista.

Propriedade de um rico empresário tibetano da região, Lü Shigui, que fez sua fortuna no setor da energia hidrelétrica e hotelaria, o gerente destacou que a empresa tentará ir a público nos próximos cinco anos.

"O sonho real é melhorar a qualidade do vinho e vendê-lo a outros países", concluiu Ma.

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