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Aqueduto mais profundo das Américas faz crescer cultivos no deserto do Peru

24/09/2016 06h01

Fernando Gimeno.

Olmos (Peru), 24 set (EFE).- A 2.000 metros abaixo dos Andes, o aqueduto mais profundo das Américas leva água para que milhares de hectares de frutas e hortaliças cresçam em uma das regiões mais desérticas e pobres do Peru, cujo desenvolvimento econômico disparará este ano, quando exportar suas primeiras colheitas para a América do Norte e Europa.

O aqueduto, uma das maiores obras de engenharia realizadas no Peru, atravessa 20 quilômetros de cordilheira para desviar as águas do rio Huancabamba até a costa do norte do Peru, onde são utilizadas para regar 43.500 hectares de cultivos em pleno deserto, segundo comprovou a Agência Efe em uma visita ao local.

Assim funciona o projeto de transposição e irrigação de Olmos, 900 quilômetros ao norte de Lima, e que demandou um investimento total de US$ 600 milhões, segundo disse à Efe o diretor de investimentos da empresa concessionária do projeto, a H2Olmos Odebrecht Latinvest, Alfonso Pinillos.

O túnel, idealizado há cerca de 90 anos pelo engenheiro britânico Charles Sutton e concluído em 2012, aliviou o déficit hídrico dos vales secos de Olmos, na região de Lambayeque, onde chove menos de 25 litros por metro quadrado ao ano.

Pinillos lembrou que a perfuração do túnel, de 4,8 metros de diâmetro e com uma capacidade de 42 metros cúbicos por segundo, foi feita com uma tuneladora projetada expressamente para o projeto e construída peça por peça dentro do próprio canal.

Durante a escavação - na qual não participaram mulheres para "respeitar" uma antiga tradição mineradora dos Andes para que a Pachamama (Mãe Natureza, em quíchua) "não fique ciumenta" - houve explosões inesperadas de rochas, que atrasaram os trabalhos e aumentaram as despesas.

Uma vez concluído, a água chega ao aqueduto desde a represa de Limón, um muro de 330 metros de comprimento e 43 de altura construído no leito do Huancabamba para acumular até 30 milhões de metros cúbicos de água, e primeiro ponto de uma rota de 65 quilômetros até chegar aos cultivos.

Após percorrer os 20 quilômetros de túnel, o caudal cai em uma catarata no rio Lajes, que desemboca no rio Olmos, onde 30 quilômetros mais abaixo é recolhido por canais que o transporta por 15 quilômetros até um novo reservatório que o distribui aos campos.

Nessas terras antes secas já há cerca de 12 mil hectares em produção, onde cresce cana-de-açúcar, uvas, mangas, aspargos e inclusive framboesas, que atualmente dão emprego a 4.000 pessoas, relatou à Efe o gerente de desenvolvimento das concessões de irrigação da Odebrecht, Juan Carlos Urteaga.

O executivo estimou que o projeto gerará 30 mil postos de trabalho diretos e 100 mil indiretos quando seus 43.500 hectares estiverem produzindo, o que motivará a construção no local de uma nova cidade para 70 mil habitantes.

Entre as terras de cultivo há 5.500 hectares de camponeses do Valle Viejo de Olmos e 38 mil hectares adquiridos por empresas peruanas, chilenas, americanas e europeias, cujo valor de produção será de cerca dos US$ 650 milhões.

No primeiro grupo está a Associação Agropecuária La Juliana, uma cooperativa de 17 sócios que começou a cultivar 29 hectares de banana, e sua presidente, María del Rosario Carvajal, contou à Efe que com sua primeira colheita enviarão 32.400 quilos da fruta para a Holanda, pelo que receberão US$ 9 mil.

"Antes só semeávamos milho ou feijão na temporada de chuvas, mas com a transposição temos água permanente e podemos cultivar banana, que é um produto muito rentável. Isso fez com que melhorássemos nossa qualidade de vida", acrescentou Carvajal.

No lado das empresas, o grupo peruano Gloria construiu uma fábrica de US$ 300 milhões para refinar açúcar a partir do que cultiva a Agro-Frusan, de capital chileno e americano, produto a ser enviado para EUA e Canadá, segundo afirmou à Efe seu chefe de cultivos, Julio Alcedo.

Esta transformação econômica no norte do Peru será acelerada quando se concluir a segunda etapa do projeto, que implica em quadruplicar a capacidade da barragem Limón e dobrar a superfície agrária até chegar a 100 mil hectares.