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Empresas latinas esquecem a política para buscar negócios no muro de Trump

14/03/2017 16h29

Jorge Mederos.

Chicago (EUA.), 14 mar (EFE).- As mais de 60 empresas hispânicas interessadas na construção do polêmico muro que o presidente Donald Trump quer erguer na fronteira dos Estados Unidos com o México deixam de lado as considerações políticas ou patrióticas e veem a obra como uma oportunidade de negócio.

"Honestamente, para nós seria um trabalho de infraestrutura e gerador de empregos, algo que tanto necessitamos no Novo México", declarou à Agência Efe Mario Burgos, da empresa de construção Burgos Group, que destacou que esse estado tem uma taxa de desemprego de 6,7%, a mais alta do país.

Filho de um peruano, Burgos disse que a participação de sua empresa familiar no muro não tem nenhuma conotação anti-imigrante e a considera uma questão prática.

O mesmo opinou Amadeo Sáenz, da construtora texana J.D. Abrams, que declarou que, apesar de ser uma cooperativa propriedade dos funcionários há oito anos, em sua maioria hispânicos, quando veio a decisão de participar não foi considerados os "aspectos políticos, mas econômicos" do projeto.

A J.D. Abrams, localizada em Austin, já fez estradas e pontes no valor de US$ 300 milhões, em contratos estaduais e federais, e agora vê a oportunidade de participar de um projeto de infraestrutura gigante e pelo qual cerca de 600 empresas se mostraram interessadas.

Sáenz disse à Agência Efe que sabe das dificuldades logísticas da obra, que visa completar o muro já existente ao longo na faixa fronteiriça de Califórnia, Arizona, Novo México e parte do Texas até completar a fronteira entre ambos os países.

Segundo a convocação do governo, o muro, que seria construído em três períodos, teria quase dez metros de altura para que não possa ser escalado e deveria ser resistente a danos, um projeto que demandaria pelo menos três anos e meio de trabalho, segundo o informado pelo Departamento de Segurança Nacional (DHS), que também deverá lidar com a compra de terrenos e expropriações.

Ricardo Díaz, da Halbert Construction, localizada perto de San Diego, na Califórnia, disse que sua empresa tem 38 empregados com origens e opiniões muito diferentes sobre Trump e o muro, mas que isso não foi obstáculo para se interessarem na obra.

"Alguém tem que fazer isso, trabalho é trabalho, sem importar as afiliações políticas", declarou.

Da cidade de Luquillo, em Porto Rico, o engenheiro militar aposentado Patrick Balcázar disse à Agência Efe que é contra o muro, e na sua opinião seria melhor desenvolver ambos os lados da fronteira para evitar a emigração ilegal.

Mas a sua empresa, San Diego Project Management, com experiência em projeto e desenvolvimento de grandes contratos, considera que a participação no muro seria um alívio para os problemas econômicos porto-riquenhos.

"Em Porto Rico não há trabalho, estamos em depressão econômica e para manter minha a relação tenho que aproveitar o que aparece no horizonte", explicou.

Balcázar disse que Porto Rico pode fornecer cimento e a capacidade de fazer estruturas pré-fabricadas que depois seriam armadas no lugar da obra, mas admitiu que será "uma luta entre Davi e Golias" porque há grandes empresas de projeção mundial que também estão interessadas.

Na opinião de Balcázar, pode ocorrer o paradoxo de o consórcio mexicano Cemex, um dos maiores produtores de cimentos do mundo e que tem várias fábricas nos Estados Unidos, fornecer material às empresas construtoras.

Um porta-voz da empresa, consultado pela Efe, disse que Cemex não constrói nos EUA, mas produz materiais para a indústria da construção.

"Atualmente não há detalhes técnicos da obra e ninguém nos procurou para participar. Se algum de nossos clientes nos pedir o orçamento de materiais, temos a responsabilidade de fazer, embora isso não signifique que a Cemex participará da obra", acrescentou. EFE

jm/vnm