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Gaza enfrenta novos cortes de eletricidade em sua pior crise energética

22/04/2017 10h02

Saud Abu Ramadan.

Khan Yunis (Gaza), 22 abr (EFE).- Após dez anos de crise de energia, grandes cortes de eletricidade voltam a tumultuar o dia a dia das pessoas que vivem na Faixa de Gaza, como é o caso de Sawsan Zorob, que tem sete filhos e mora em Khan Yunis.

Sawsan aquece a água para o banho das crianças com o mesmo fogo que usa para fazer o pão. "A vida não pode parar quando acaba a eletricidade, mas é realmente difícil fazer as tarefas diárias ficando 16 horas sem luz", declarou à Agência Efe.

Quando os filhos chegam da escola, a luz ainda não voltou e ela está terminando de assar os pãezinhos. Com a lenha usada para a fornada, ela aquece a água do banho das crianças.

No último domingo, a Autoridade de Energia controlada pelo Hamas - movimento islamita que governa a região litorânea - e a companhia de luz da cidade anunciaram que a única central elétrica teve que ser desligada por falta de combustível para movimentar as turbinas.

O Hamas se nega a comprar combustível, o que é gravado pelo que se conhece como "imposto azul".

"Não é culpa nossa que a Autoridade Nacional Palestiniana, em Ramala, e o Hamas, em Gaza, não entrem em acordo sobre trazer combustível com ou sem impostos. Eles têm que resolver suas diferenças e ajudar à população a viver melhor", avaliou a moça.

Sawsan Zorob é apenas um exemplo da população que tem sofrido com novos cortes de eletricidade e que não pode comprar energias alternativas, como baterias para luz.

A crise já dura mais de dez anos e começou quando aviões israelenses destruíram a central elétrica logo depois que o Hamas e outras milícias sequestraram soldados israelenses em 2006. A situação piorou em 2007, devido ao bloqueio imposto à entrada de mercadorias quando o grupo islamita tomou o controle da Faixa de Gaza.

Desde então, são no máximo oito horas de eletricidade por dia, mas atualmente a população vive sua pior crise por conta das desavenças entre as facções palestinas.

A luta de poder começou quando o presidente Mahmoud Abbas anunciou que a Autoridade Nacional Palestina (ANP) aplicaria "medidas sem precedentes" contra a Faixa de Gaza para fazer o Hamas aceitar o fim de dez anos de divisão interna e que manteve a cidade costeira totalmente isolada.

"As medidas que o presidente Abbas está disposto a aplicar pretendem eliminar todos os recursos que fazem o Hamas se manter ativo e levar a população a se rebelar contra o governo do movimento na Faixa", comentou o analista político Hani Habib.

Habib acredita que Abbas pressiona o Hamas a comprar combustível altamente tributado - uma opção que o movimento islamita rejeita -, a cortar os salários de 70 mil funcionários públicos e manter fechada a passagem de Rafa com o Egito, além de suspender os serviços bancários e cortar a assistência financeira dada às famílias com crianças mortas nas guerras com Israel.

Entre as medidas que Abbas está decidido a colocar em prática também está a eliminação da assistência médica que o Ministério de Saúde palestino oferece mensalmente em Gaza.

"As medidas estão tentando sufocar o Hamas", resumiu Habib.

Khalil al-Hayya, um importante funcionário do grupo islamita, afirma que a Autoridade de Energia se recusa comprar o combustível, encarecido pelo "imposto azul", e garante que eles não vão voltar atrás nessa decisão.

"O preço base de cada litro de combustível industrial é 2,3 shekeles (R$ 1,97) e com o imposto azul ele fica 5,8 shekeles (R$ 4,97). Não vamos aceitar", reforçou Hayya à Efe.

Ele justifica tal decisão pela pobreza da população "que tem uma difícil situação de vida e não pode comprar combustível com estes injustos e altos impostos que vão para Abbas e sua autoridade".

"Existem muitos projetos pendentes para pôr fim à crise e só estamos esperando a aprovação de Mahmoud Abbas, mas ele não aceita", acrescentou o oficial.

O Hamas diz que a ANP arrecada US$ 100 milhões por mês em impostos que recolhe do comércio em Gaza, enquanto o movimento islamita não arrecada nada.

"Pedimos ao governo de Rami Hamdallah (primeiro-ministro da Palestina) que venha e governe os assuntos diários de Gaza. Abençoaremos isto", garantiu.

O Hamas sustenta também que o governo da Cisjordânia é plenamente responsável por assegurar as necessidades básicas da população e recentemente enviou várias mensagens através dos meios de comunicação instando Abbas a cooperar e resolver a crise na cidade. EFE

sar-lfp/cdr/rsd

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