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FHC e outros ex-presidentes pedem liderança de Brasil, Argentina e México

11/05/2017 15h33

Buenos Aires, 11 mai (EFE).- Fernando Henrique Cardoso e outros ex-presidentes de Chile, Uruguai e Espanha pediram nesta quinta-feira que Brasil, Argentina e México adotem uma voz conjunta para liderar a América Latina, em um cenário internacional que oferece muitas "oportunidades", durante um encontro conduzido pelo governante argentino, Mauricio Macri.

Reunidos em Buenos Aires junto a acadêmicos e grandes empresários, FHC, Julio María Sanguinetti (Uruguai), Felipe González (Espanha) e Ricardo Lagos (Chile) conversaram com Macri sobre os desafios para as sociedades na era da globalização e sobre o papel da América latina.

"A América Latina só será escutada sobre a base de que México, Brasil e Argentina tenham uma só voz", declarou Lagos, no primeiro dos dois dias deste encontro, intitulado "Desafios para atingir uma sociedade transparente".

O chileno destacou que a próxima presidência argentina do G20 é uma grande "oportunidade" para que a região alce a voz e seja mais uma entre as grandes regiões de influência, à altura de Europa, Estados Unidos, China e Rússia.

"O México tem que estar. A América Latina não se pode dar o luxo de presentear o México aos Estados Unidos", ressaltou.

Com ele concordaram os demais conferentes, como FHC, que assegurou que "é o momento" de buscar a coesão, uma vez que, além disso, se está constatando um retrocesso da influência "do chavismo".

"Esta é a única região do mundo onde não existe uma ameaça terrorista", ressaltou, por sua parte, González, que sugeriu uma aposta em um "regionalismo aberto" frente aos discursos "reacionários" de fenômenos como Donald Trump nos Estados Unidos e Marine Le Pen na França.

González dedicou boa parte de sua participação a ser muito crítico com a situação na Venezuela e exigiu ao presidente desse país, Nicolás Maduro, que não "invente" uma Assembleia Constituinte, que convoque eleições e que ordene que a polícia pare de disparar contra quem se manifesta nas ruas.

Já Sanguinetti disse que, em sua opinião, a "extrema direita" de Le Pen e Trump coincide com a "extrema esquerda" do chavismo e de partidos como o Podemos na Espanha em postulados de "isolamento" e "protecionismo".

Os ex-presidentes louvaram o trabalho de Macri neste primeiro ano e meio de governo após o final do kirchnerismo (2003-2015), mas reconheceram que tem grandes desafios, como o da redução da pobreza, que na Argentina afeta um terço da população.

Apesar das dificuldades, atribuíram ao governante um papel de protagonismo neste momento histórico crucial para a América latina.

"Estamos diante de um mundo muito complexo, no qual os países centrais têm muitas mais dúvidas do que certezas, mas nós temos mais certezas, porque vimos mais de atrás e isso nos dá uma tarefa: melhorar", opinou Macri, em seu discurso de abertura.

"O mundo se apresenta como algo muito desafiante, mas eu sinto que para nossa região é um momento de oportunidade, não é um momento defensivo, senão um momento expansivo", completou.

Já sem o chefe de Estado argentino, mas com a presença de Carlos Slim, os ex-presidentes continuaram o diálogo em temas como a revolução tecnológica e os desafios do crescimento das classes médias, que apresentam novas reivindicações às quais os governos não sabem responder.

Essa insatisfação de uma cidadania cada vez mais "empoderada" explica, segundo constataram, o apoio de grandes setores da população a fórmulas políticas oferecidas pelo populismo e pelo protecionismo.

"Temos o desafio extraordinário de governança desse processo de globalização, que está escapando de nossas mãos. Há que modular o processo, governar o processo, não nos deixemos arrastar", declarou Felipe González.

"A grande vantagem é que esta civilização se cimenta no conforto dos demais", opinou Slim, e não "na exploração e nos poderes monolíticos como em outras épocas".

O encontro de ex-presidentes, empresários e acadêmicos - organizado pela fundação Círculo de Montevidéu e o grupo empresarial argentino Werthein -, prosseguiu com outros especialistas em um painel denominado "Educação para a cidadania e a competitividade".

O encerramento, na sexta-feira, focará na "ética das instituições", com a participação de Alberto Ruiz Gallardón (ex-ministro de Justiça de Espanha), Natalio Botana (cientista político argentino), Rebeca Grynspan (secretária-geral ibero-americana), Manuel Marín (ex-presidente da Comunidade Europeia) e Martín Santiago (coordenador residente da ONU na Colômbia).