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"Herói" queniano ilumina aldeias remotas com a força da água

Por Alba Villén

Em Murang'a (Quênia)

17/06/2017 06h00

O jovem queniano John Magiro tem apenas 25 anos e, devido a seu entorno humilde, não teve chance de se formar em uma universidade. Mas com inteligência e comprometimento, conseguiu criar e levar eletricidade para 300 casas que não tinham acesso à luz elétrica, aproveitando a energia do rio que cruza sua remota aldeia no centro do Quênia.

Magiro percorre as altas montanhas do povoado de Ireke, situado no condado de Murang'a, com o seu avental roxo, um capacete de segurança e uma corda robusta usada como um colar, sempre preparado para se sujar diante dos pedidos de qualquer morador e, como ele mesmo explicou à Agência Efe, decidido a "transformar a comunidade".

Desde 2013, o seu projeto, "Magiro Hidroelétrica", conseguiu eletrificar dois quilômetros de sua aldeia e levar luz para 300 casas que até então utilizavam querosene, baterias e gasóleo, com o consequente impacto que isto produzia sobre o meio ambiente.

Foi o dínamo de uma bicicleta que deixou Magiro maravilhado. O jovem pensou que poderia conseguir eletricidade da força da água nas cataratas de Ireke com um sistema parecido. Então, desmontou alternadores de carros e até o rádio da sua mãe em busca das peças que necessitava para idealizar uma miniusina hidrelétrica.

Quando Magiro conseguiu eletricidade, o Fundo Fiduciário de Meio Ambiente (Netfund, sigla em inglês) e a organização ambiental World Wildlife Found (WWF, sigla em inglês) se interessaram pelo seu respeito ao meio ambiente e apoiaram o jovem queniano para incrementar o projeto com o objetivo de beneficiar mais pessoas.

Então, Magiro construiu uma represa no rio Gongo com troncos e tábuas para poder controlar a força da água. Agora, dois modestos dutos desembocam em uma pequena edificação de cimento que abriga dois alternadores com os quais consegue uma potência de 75 quilowatts. Mas já sonha em chegar aos 1.110 kw.

Turbinas a toda velocidade rompem o silêncio de uma terra bucólica e o hipnótico som do fluxo do rio enquanto Magiro encaixa uma borracha em uma polia e a conecta ao transformador para controlar com uma roda - como se fosse um timão - a quantidade de energia que passará através da rede para seus vizinhos.

Jeffrey, uma das quatro pessoas que Magiro conseguiu contratar, sobe todos os dias com dois pedaços de ferro presos às suas sandálias desgastadas os mais de 12 metros de altura de um fino poste de madeira, onde existe um emaranhado de cabos, para supervisionar a conexão todos os dias.

Para os moradores de Mihuti, Magiro é quase um herói. "Ele nos salvou da escuridão para nos trazer a luz. Tenho muito apreço por seu esforço, nossa vida melhorou muito", explicou à Agência Efe um camponês beneficiário do projeto, Shem Chegue.

Para Chegue, isto não consiste em apenas ter ou não luz, mas agora ele pode ligar uma televisão, recarregar a bateria de um celular e cozinhar. "Ele nos fez crescer, também mentalmente, porque agora, por exemplo, posso ver o noticiário", afirmou o queniano.

Mesmo que o fornecimento de energia elétrica chegue de forma reduzida a essas aldeias com a empresa pública "Kenia Power", o preço da fatura, de 500 xelins quenianos por mês (cerca de R$ 20), torna o acesso à eletricidade inacessível para pessoas que sobrevivem com menos de R$ 4 por dia. Mas, com Magiro, os moradores têm luz por 200 xelins.

"Agora mesmo, não tenho nenhum lucro", explicou Magiro, que destina o orçamento das faturas de seus clientes para continuar melhorando seu projeto, já que quer ampliar os dois quilômetros de povoado que eletrificou até 30, e conseguir levar luz para mais 280 moradores que podem se beneficiar da hidroelétrica.

Para poder continuar trabalhando neste desafio, Magiro calcula que necessita de 8 milhões de xelins (R$ 260 mil), um desafio para o qual não recebe qualquer ajuda do governo do Quênia.

O jovem Magiro mal terminou de expandir como gostaria sua hidroelétrica e já sonha com o seu próximo desafio: conseguir um bom fornecimento de água, que é escassa nessas aldeias. "Se temos eletricidade suficiente, tudo é possível", afirmou o jovem entusiasta.

John Magiro adoraria ter a chance de poder estudar engenharia na universidade para adquirir mais conhecimento além do que o seu empenho o permitiu descobrir, para continuar "transformando as comunidades do Quênia", segundo suas próprias palavras.