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Agricultores vencem batalha contra presidente Erdogan na Turquia

06/09/2017 06h00

Dogan Tiliç.

Ancara, 6 set (EFE).- Os proprietários de olivais na Turquia, quarto maior produtor mundial de azeite de oliva, conseguiram vencer uma queda de braço contra as medidas do presidente do país, o islamita Recep Tayyip Erdogan.

Com uma produção de 177 mil toneladas no ano passado, a Turquia ficou em 2016 atrás apenas de Espanha, Itália e Grécia entre os maiores fornecedores de azeite de oliva do mundo, segundo dados do Conselho Oleícola Internacional.

Esta posição parecia ameaçada pelos recentes planos do governo turco de abrir os campos de oliveiras à atividade industrial, que, no entanto, bateram de frente com a resistência do setor e suas arraigadas tradições.

O projeto de lei, impulsionado pelo Partido Justiça e Desenvolvimento (AKP) de Erdogan, no poder desde 2002, previa modificar a lei que proíbe construções até um mínimo de três quilômetros de distância dos olivais.

O ministro da Indústria, Faruk Ozlu, disse que a lei vigente, que data de 1939, ficou obsoleta.

"Se for considerada a tecnologia de hoje em dia, não parece ter muito sentido não poder se aproximar a menos de três quilômetros dos olivais", disse Ozlu no parlamento.

Durante meses, os agricultores se mobilizaram contra estes planos, apoiados por vários grupos da sociedade civil e do partido opositor social democrata CHP.

"Podem cortar a minha cabeça, mas não minhas árvores", foi um dos lemas dos protestos dos agricultores.

No final, a comissão industrial do parlamento decidiu retirar no dia 13 de junho o artigo mais polêmico do projeto.

Em certas regiões da Turquia a azeitona domina a vida das pessoas há séculos. Na área em torno da localidade de Edremit, no extremo oeste da Turquia, por exemplo, todos vivem da azeitona.

As jovens dali não se casam se não ganharem oliveiras do noivo, o primeiro corte de cabelo ou a tradicional circuncisão não acontecem sem que o menino receba uma oliveira de presente.

Mehmet Semerci é um produtor de azeitonas de quarta geração em Edremit. "O que faz com que nosso azeite seja bom é a terra e o clima. As azeitonas precisam de ar fresco e puro", explicou em declarações ao jornal "Hürriyet".

"Se a lei fosse aprovada nem todas as árvores iam ser cortadas, mas sim danificadas (...) Pode-se construir em outros lugares", disse Semerci.

A retirada do controverso projeto de lei é um dos poucos casos recentes nos quais o todo-poderoso AKP não conseguiu impor sua vontade.

De pouco serviu até agora que o premiê turco, Binali Yildirim, tenha insistido na necessidade de impulsionar o desenvolvimento industrial do país.

"O que é mais importante. Azeitonas ou indústrias?", perguntou retoricamente na Câmara, após destacar que nos 15 anos de governo do seu partido o número de oliveiras tinha subido de 100 milhões para 171 milhões de unidades.

Os opositores se mantiveram firmes em sua postura diante do risco de que a eventual aprovação da lei possa levar ao corte de "até 100 milhões de oliveiras", segundo cálculos do Conselho Nacional de Azeite de Oliva.

Eles temem, além disso, os efeitos nocivos das indústrias para os olivais, com a geração de fuligem e poluição, segundo advertiu a organização ambientalista Greenpeace.

Orhan Saribal, deputado do CHP, lembrou em declarações à Efe a importância da lei vigente, revisada em 1995 e que determina a obrigação do Estado "de proteger e desenvolver os campos de oliveiras".

"Graças a isso temos hoje 174 milhões de oliveiras, das quais o governo está tão orgulhoso", destacou o parlamentar.

No ano passado, a Turquia produziu 1,73 milhão de toneladas de azeitona, das quais 430 mil toneladas foram usadas para o consumo e o resto para a produção de azeite. "Deveríamos nos centrar em como aumentar isto e não em abrir campos de oliveiras para a indústria", completou Saribal.

Enquanto os produtores e os críticos estão satisfeitos com a retirada da emenda, o governo ainda não se rendeu.

"Leis existentes sobre a produção de azeitonas não satisfazem as necessidades. Enquanto continuar havendo estas necessidades, este projeto poderá voltar", disse o ministro de Indústria após a retirada da lei em junho.