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Empreendedores buscam soluções digitais para ajudar agricultores mais pobres

10/09/2018 06h03

Belén Delgado.

Roma, 10 set (EFE).- De todas as tecnologias que revolucionaram a indústria agrícola, poucas chegaram aos produtores mais pobres, embora haja quem não jogue a toalha para conectá-los com a telefonia celular, internet e inteligência de dados.

Em relação à exclusão digital aberta entre os países mais e menos desenvolvidos, alguns empreendedores estão tentando conectar lugares tão distantes entre si como as zonas rurais do Quênia com os Estados Unidos.

Um contêiner equipado com todo o necessário para realizar uma agricultura "de precisão" é oferecida por Brandi DeCarli, sócia-fundadora da empresa social "Farm From a Box".

Cada recipiente, que custa US$ 40 mil, contém placas solares, armazenamento a frio, sistemas de irrigação e sensores, junto com outras ferramentas básicas para cultivar 0,8 hectare, que permitiram reduzir em até 80% as perdas posteriores à colheita.

"Podemos apoiar os cultivos virtualmente em qualquer lugar do mundo", disse a empresária em uma conferência em Roma sobre como redirecionar a tecnologia para um desenvolvimento inclusivo.

Da cidade de San Francisco (EUA) supervisionam pela internet que a tecnologia funcione e respondem perguntas, como a que receberam de uma remota área da Tanzânia por causa de um problema com a bomba de água.

"Simplesmente precisava consertar o filtro da água", afirmou DeCarli, depois que os técnicos comprovaram em um painel a informação sobre o "estado de saúde da fazenda ", que mostra a energia utilizada, a temperatura e os possíveis vazamentos.

Cada vez existem mais aplicativos para celular para que os camponeses pobres forneçam dados com seus aparelhos em plataformas que medem a efetividade de determinados projetos de desenvolvimento.

"Os pequenos produtores podem potencialmente melhorar sua renda e seu modo de fazer agricultura, mas a cada vez que adotam uma nova tecnologia, necessitam se convencer, se acostumar, serem treinados e começar a aprender fazendo", explicou o economista Carlo Bravi, da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).

Entre os mais pobres, as dificuldades se acumulam: assumem muitos riscos, carecem de meios e infraestruturas, sofrem a pressão da mudança climática e são reticentes a modificar seus costumes.

Bravi compara os mil euros anuais que eles deveriam investir com o esforço que faria uma pessoa de renda alta comprando um apartamento de meio milhão de euros todo ano.

Um estudo publicado em 2016 na revista "Science" revelou que em 2011 foram destinados à agricultura US$ 59,3 bilhões em pesquisa e desenvolvimento, 5% do total.

Os 55% desses fundos públicos e privados procediam de países ricos (contra 69% em 1980), enquanto países de renda média como China, Brasil e Índia foram responsáveis por 45% (frente a 29%).

A lacuna do gasto público em pesquisa e desenvolvimento agrícolas aumentou entre os países ricos, que em 2011 destinavam US$ 18 per capita, e os pobres, que mal investiram US$ 1,5, apesar de lá se concentrar as maiores taxas de crescimento demográfico.

Além da transferência de tecnologia aos produtores pobres, a inteligência de dados pode facilitar o acesso ao crédito, prevendo os rendimentos agrícolas e reduzindo os riscos dos bancos que emprestam dinheiro.

Na Índia, cerca de 50 milhões de pessoas têm assegurados seus cultivos sob um modelo subsidiado, se bem que 60% dos agricultores ainda não estão cobertos e 20% já tinha abandonado o programa em 2016.

"Os produtores sofrem cada vez mais estresse, não confiam nas instituições e não sabem sobre seguros", explicou Pramod Aggarwal, analista do Grupo Consultivo para a Pesquisa Agrícola Internacional (CGIAR).

Aggarwal trabalha na análise de dados de famílias, aplicativos para celulares, imagens de satélite e finanças para ajudar os agricultores a estimar a quantidade de dinheiro que deveriam pagar de juros e a compensação que receberiam.

Ele procura assim um algoritmo que torne mais fácil a vida destas pessoas e lhes ofereça mais segurança em relação aos rigores do campo.