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Dinheiro não declarado e casas de luxo: as denúncias contra Carlos Ghosn

22/11/2018 17h46

Tóquio, 22 nov (EFE).- Demitido da presidência do conselho de administração da Nissan nesta quinta-feira, o executivo brasileiro Carlos Ghosn foi acusado de evasão de renda e de usar dinheiro da empresa para comprar imóveis de luxo e pagar férias para familiares.

Ghosn, de 64 anos, foi preso na segunda-feira após chegar ao Japão sem que tivesse conhecimento de que estava sendo investigado pelas autoridades fiscais do país.

O conselho de administração da Nissan, a segunda maior montadora de veículos japonesa, decidiu hoje demitir Ghosn depois de mais de uma década de vínculo com a montadora, da qual era o executivo mais emblemático.

Além da Nissan, Ghosn era o principal diretor de outras duas empresas que firmaram uma aliança com a montadora japonesa: Renault e Mitsubishi. A primeira anunciou a substituição do executivo, e a segunda está estudando como se desvincular do brasileiro.

A Nissan Motor evitou divulgar publicamente detalhes sobre as acusações da Justiça japonesa contra Ghosn. A empresa se limitou a esclarecer que as investigações, ainda em andamento, surgiram a partir de delações internas feitas ao longo dos últimos meses.

As poucas informações publicadas pela empresa sobre o caso foram enviadas ao órgão regulador da Bolsa de Valores de Tóquio. Em comunicado, a Nissan afirmou que, durante muitos anos, Ghosn e outro diretor da montadora, Greg Kelly, relataram às autoridades fiscais receitas "menores do que os números reais".

No caso de Ghosn, a empresa ressaltou na nota aos órgãos de regulação que "foram descobertos outros atos de más condutas", como o uso pessoal de bens da companhia, sem dar mais explicações.

O CEO da Nissan, Hiroto Saikawa, também não esclareceu as acusações contra Ghosn na entrevista coletiva concedida na última segunda-feira, horas depois de o brasileiro ter sido preso em um aeroporto de Tóquio.

Saikawa limitou-se a afirmar que Ghosn e Kelly "cometeram graves e contínuas ações de má conduta" dentro da empresa.

Veículos da imprensa japoneses divulgaram detalhes do caso a partir de vazamentos de partes do processo contra Ghosn, o executivo estrangeiro mais bem pago do país. Segundo os documentos, o brasileiro informou ter recebido 4,98 bilhões de ienes às autoridades fiscais entre 2010 e 2014. No entanto, o valor real ganho por ele seria de 9,98 bilhões de ienes.

Fontes com conhecimento do caso ouvidas pelo jornal "Asahi" afirmaram que Ghosn também não informou ao governo os US$ 36 milhões recebidos com a valorização de ações na bolsa de valores.

Principal figura do setor automotivo em nível mundial, Ghosn também utilizou dinheiro da Nissan para investir em startups. Além disso, parte desses recursos foram usados para comprar imóveis no Rio de Janeiro e em Beirute, avaliados em US$ 17,8 milhões.

As residências, compradas por uma subsidiária holandesa criada em 2010, a Zi-A Capital, são um apartamento na praia de Copacabana e uma mansão no centro da capital libanesa. Já os pagamentos teriam sido feitos, segundo o jornal "Nikkei", nas Ilhas Virgens Britânicas, um paraíso fiscal.

Além disso, Ghosn tem casas na França e na Holanda. As despesas com manutenção dos imóveis, segundo as denúncias, também eram cobertas pela empresa.

As partes divulgadas do processo também indicam que a Nissan gastou "centenas de milhares de dólares" para cobrir despesas das férias de familiares de Ghosn.

A Nissan obteve as informações graças à delação de dois funcionários: um japonês e um estrangeiro, nenhum deles identificado. O estrangeiro, segundo a "Nikkei", é um vice-presidente, de 54 anos, que trabalhou na filial do Reino Unido. Já o japonês foi chefe de gabinete de Ghosn.