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Startup da Costa Rica aproveita insetos para atenuar escassez de alimentos

10/06/2019 06h02

Imane Rachidi.

Haia, 10 jun (EFE).- O aumento da população do planeta e a constante ameaça de escassez de alimentos fizeram a startup CRIC, da Costa Rica, se dedicar a atenuar este problema aproveitando insetos como "supernutrientes" para produzir, por exemplo, farinha, biscoitos e sorvetes.

A nutricionista Daniela Arias disse à Agência Efe que os insetos são "o alimento do futuro" para sua empresa, porque são a espécie mais comum no mundo, consomem duas mil vezes menos água, ocupam 25 vezes menos espaço, precisam de 12 vezes menos alimentos e geram 100 vezes menos gases do efeito estufa que a indústria pecuária.

Além disso, em comparação com outras carnes que carecem de certos nutrientes, os insetos têm proteína, gordura saudável, fibra, vitaminas, minerais e fontes de cálcio, o que os torna um "supernutriente", segundo este projeto empresarial.

A empresa, que conta com uma fazenda de insetos comestíveis, acredita em "soluções saudáveis e sustentáveis" a partir desses invertebrados e atualmente está trabalhando com grilos, introduzindo-os de "maneira fácil" no mercado, como alimentos em forma de pó, matéria-prima que pode ser utilizada depois para se cozinhar.

Sob o lema "salvemos o mundo, comamos insetos", Daniela e seu sócio, Alejandro Ortega, conseguiram registrar oficialmente os grilos como "matéria-prima", o que lhes permite introduzir este alimento no resto do mundo, já que a Costa Rica abriga uma das maiores variedades de insetos do planeta, pois tem "tudo o que precisam": clima, água, sol e plantas.

Agora estão começando a trabalhar com outros insetos nutritivos, como larvas de escaravelho e gafanhotos, para "criar outros produtos, não necessariamente da indústria alimentícia", como substitutos do plástico desenvolvidos a partir dos biopolímeros; ou seja, utilizando assim cada inseto da "maneira mais eficiente e para um uso específico".

O processo de criação é a parte "mais importante" e é o fator determinante para que seja uma solução sustentável e saudável para o ambiente; por isso, o ponto "mais crítico é garantir que a produção dos insetos seja da melhor qualidade possível e o mais eficiente possível, com o objetivo de incluí-los em uma economia circular".

Ao mesmo tempo, é preciso garantir um fluxo contínuo de insetos, e uma empresa que está começando suas atividades como a CRIC se vê obrigada a "sacrificar alguns clientes para poder manter essa produção e satisfazer os pedidos de outros".

Os insetos se reproduzem a cada sete semanas (seu ciclo de vida) se não forem sacrificados, então se multiplicam por dez, o que faz com que seja "uma solução extremamente escalável".

A CRIC tem clientes no México e na Costa Rica, e está associada à Câmara de Comércio da Holanda, onde recebe um "apoio estratégico muito importante" que Daniela quer utilizar para se expandir para a Europa, estabelecendo em Amsterdã um centro de distribuição, importando "insetos como fonte de sustentabilidade".

"Nosso principal cliente por enquanto é o México. Temos uma ordem de compra de 500 quilos por mês. Na Costa Rica, tivemos alguns clientes, como empresas de biscoitos e de manufatura de outros produtos, inclusive sorvetes de grilo", acrescentou esta jovem entre risos, porque "ninguém diria" que prefere o sabor de inseto, em vez de chocolate.

A empresa não tem intenção de mudar sua sede para outro país longe da América Central e das ilhas caribenhas por conta do clima, "pois a umidade e a temperatura permitem que a reprodução de insetos seja da maneira mais eficiente, com menos custos e recursos como a eletricidade, permitindo que os insetos se sintam em seu habitat natural".

Daniela foi quem descobriu este mundo quando, ao terminar sua licenciatura, inscreveu-se em um curso sobre a relação entre nutrição e artrópodes, família que inclui desde aranhas e escorpiões até os mariscos.

Durante este tempo, percebeu que "os insetos como solução para problemas globais são uma oportunidade de bom negócio", porque em 2050 a população mundial passará dos atuais 7 bilhões de habitantes para 9,8 bilhões, concentrados na Ásia (52%) e na África (21%), segundo cálculos da ONU.

Este aumento vai causar muitos problemas não só de desnutrição, mas também de doenças crônicas provocadas por deficiências em elementos como proteínas e outros nutrientes. EFE