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Fundadora da Agência Lupa crê que fact-cheking eleva "custo da mentira"

25/07/2019 21h03

Sara Rodríguez.

Madri, 25 jul (EFE).- Espalhar desinformação se tornou um negócio muito lucrativo e uma estratégica eficaz para políticos com fins poucos legítimos, mas uma nova forma de jornalismo está conseguindo fazer com que essas mentiras custem caro, garante a jornalista Cristina Tardáguila, fundadora da Agência Lupa, o primeiro veículo de fact-checking do Brasil.

"O fack-checking elevou o custo da mentira", afirmou à Agência Efe a jornalista, diretora-adjunta da International Fact-Checking Network (IFCN), que reúne os principais veículos de verificação de fatos do mundo.

Para Tardáguila, que está em Madri para participar de um curso organizado pelo site Newtral, o fact-checking expõe os mentirosos, aumenta o risco de exposição daqueles que optam pela propagação de desinformação e desincentiva eles próprios e outros a seguirem pelo mesmo caminho.

A trajetória com a Agência Lupa, a primeira especializada neste tipo de jornalismo no Brasil, levou Tardáguila à direção do IFCN, que pertence a uma das mais prestigiadas escolas de jornalismo dos Estados Unidos, a Poynter.

A campanha eleitoral do ano passado foram os meses mais intensos da vida profissional da jornalista. O ataque ao então candidato Jair Bolsonaro e a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva provocaram um tsunami de notícias falsas que a Lupa tentou desmentir.

"O fact-checking tem impacto na sociedade e na vida política", diz a jornalista.

As verificações da Lupa transformaram a agência e a jornalista em alvo de ameaças por parte de simpatizantes dos dois espectros políticos que polarizaram as eleições no Brasil, mas Tardáguila vê ao menos quatro impactos gerados pelo fact-cheking na sociedade.

"É muito difícil quantificar o impacto do fact-checking, embora ele seja indiscutível, já que ainda não existem estudos sérios, mas ele é palpável em quatro níveis. Há impacto nos políticos, mas também na forma de fazer jornalismo, nos próprios criadores de notícias falsas e, certamente, nos cidadãos que consumem veículos de imprensa", explicou.

O fact-checking cresceu muito nos últimos anos, experimentando um verdadeiro "boom" entre 2015 e 2018, alimentado pelas redes sociais. No entanto, a prática surgiu muito antes, ainda na década de 1990.

"Não acho que o fact-checking vá desinflar a partir de agora, mas vai se estabilizar", projeta a fundadora da Lupa.

A pergunta que os verificadores de fatos devem responder agora, segundo Tardáguila, é descobrir como se antecipar às mentiras e à velocidade de divulgação de informações falsas pela internet. Para ela, a chave está nos formatos.

"De nada serve que as mentiras estejam no Twitter e os jornalistas vendam a verificação na manchete do jornal de domingo. Não estaríamos falando com a mesma audiência. Temos que fazer testes até encontrar o formato ideal para desmontar cada uma das mentiras, o que requer muito esforço e investimento", analisou a jornalista.

As duas regiões do mundo onde o fact-checking mais cresce são a Ásia e a América do Sul. Segundo Tardáguila, esse crescimento tem relação com o desenvolvimento político e socioeconômico registrado em ambas.

"Tem muito a ver com a recente difusão do acesso à internet nessas regiões do mundo. As democracias são jovens, estão se estabilizando e as pessoas demandam informações", disse a brasileira.

Para a fundadora da Agência Lupa, os políticos, alvos frequentes dos verificadores, têm que receber esse tipo de jornalismo de braços abertos.

"Eles têm que entender que os fact-checkers não estão ali para atacar ou defender ninguém, mas para divulgar dados. O fact-checking não tem a vontade de mudar opiniões ou crenças de uma pessoa", concluiu. EFE