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Indústria paraguaia acredita que ata de Itaipu "atualiza" compra de energia

27/07/2019 17h18

Assunção, 27 jul (EFE).- O presidente da União Industrial Paraguaia (UIP), Gustavo Volpe, opinou neste sábado que a ata bilateral entre Paraguai e Brasil pela compra de energia de Itaipu representa "uma atualização de algo que não foi feito durante vários anos", mas criticou "a forma" na qual os dois países assinaram as mesmas.

Volpe participou hoje de um evento na sede da UIP no qual discursaram diversos especialistas em questões energéticas para explicar o funcionamento da contratação de energia da barragem compartilhada por Brasil e Paraguai, depois do desgaste político ocorrido esta semana neste último quando veio à tona a notícia de que o governo paraguaio apresentou em maio um cronograma de contratação de potência mensal até 2022.

Esta é a primeira vez que o Paraguai estabelece com antecedência a compra de energia, já que, até agora, os contratos eram feitos ano a ano, por isso Volpe insiste que se tratou de "uma atualização".

"Esse ajuste é para mim fundamental para poder negociar em 2023 (data de renegociação do Anexo C do Tratado de Itaipu) de igual para igual com o Brasil, que permita ao Paraguai ter uma posição muito mais firme do que se já começamos com certos 'presentes'", afirmou o presidente da UIP.

A ata foi assinada entre Brasil e Paraguai em maio, mas só ficou conhecida pela opinião pública nesta semana, e também aumenta a quantidade de potência contratada até 2022, o que acarretará em um gasto maior por parte do Paraguai.

A população teme que esse gasto represente um aumento na conta de luz nos próximos anos, algo que, segundo Volpe, também preocupa o setor industrial, para o qual a energia é uma "matéria-prima".

Não obstante, o presidente da UIP lembrou que existem "muitas alternativas" e que o Paraguai conta com outra usina hidrelétrica, a de Yacyretá, na fronteira sul com a Argentina.

Volpe assinalou que o aumento da contratação de energia de Itaipu por parte da estatal Administração Nacional de Energia (Ande) em "nenhum caso significa mudar a estrutura dos preços".

Nesse sentido, o ex-diretor paraguaio da Entidade Binacional de Yacyretá, Ángel María Recalde, especificou que "aparentemente" não existirá um aumento de tarifa nem uma restrição às obras de infraestrutura energética, e assinalou que "Itaipu vai cobrir financeiramente" essa quantia, estimada em US$ 250 milhões, que o Paraguai terá que pagar por maior contratação de energia.

Outro engenheiro presente no evento, o ex-titular da Ande Héctor Richer, também manifestou que "parece" que esse montante será assumido por Itaipu.

"Se não for Itaipu, é o governo. Essa é a negociação que agora a ANDE e o governo devem avaliar internamente como será estabelecida", comentou Richer.

Por outro lado, tanto Volpe como Recalde e Richer criticaram a falta de informação em torno da ata bilateral, que só foi divulgada dois meses depois de assinada.

Concretamente, Recalde se mostrou incomodado com o tratamento dado aos técnicos e pelo fato de a ata ter sido elaborada em níveis diplomáticos, enquanto Volpe afirma que é preciso "criticar fortemente" esse "sigilo" e acrescentou que "as coisas poderiam ter sido feitas de outra maneira".

Por sua vez, o engenheiro Richer esclareceu que este documento não deve passar pelo Congresso, como reivindica a oposição, que vê na ata uma renúncia à soberania energética do país.

"(A ata) não descumpre nem o tratado, nem o anexo, nem as disposições (...). Ela é, simplesmente, a base, um marco para estabelecer um contrato de fornecimento de quatro anos para que tudo seja mais previsível", afirmou o engenheiro, que lembrou que o Paraguai "terceirizava" energia.

A assinatura da ata e sua divulgação para a população dois meses depois provocou indignação entre a oposição paraguaia, que reivindica mais informação ao governo, e uma Comissão Bicameral de Investigação foi formada para analisar o caso.

Além disso, o caso também fez surgir a ameaça de abertura de um processo de impeachment contra o presidente do país, Mario Abdo Benítez, a quem a oposição acusa de entreguista e traidor da pátria. EFE