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Investimento estrangeiro na América Latina volta a crescer depois de 5 anos

14/08/2019 21h16

Gerard Soler.

Santiago, 14 ago (EFE).- O investimento estrangeiro direto (IED) na América Latina quebrou em 2018 uma tendência mundial e também uma sequência de cinco anos consecutivos de redução e registrou um aumento de 13,2%, chegando a US$ 184,28 bilhões, informou nesta quarta-feira a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal).

Em um cenário global abalado pelas políticas de austeridade e as restrições ao comércio nas principais potências econômicas, a América Latina conseguiu se descolar em 2018 dos números de investimento estrangeiro negativo dos últimos cinco anos graças aos fluxos de IED que chegaram a Brasil e México.

Ao apresentar o relatório sobre o IED na região, em Santiago, no Chile, a secretária executiva da Cepal, Alicia Bárcena, elogiou a recuperação desses indicadores, mas lembrou que ainda estão longe dos US$ 213 bilhões registrados em 2012, em pleno auge do preço das matérias-primas.

O documento aponta que houve uma queda de 20% na entrada de capital, considerado o principal indicador do investimento, porque simboliza o interesse das empresas em se instalar nos países da região.

Os componentes que reforçaram o investimento estrangeiro em 2018 foram o reinvestimento de utilidades, que aumentou 16% e respondeu por cerca de US$ 61 bilhões de todo o IED, e os empréstimos entre companhias, que subiram 138% e responderam por aproximadamente US$ 52 bilhões.

Bárcena explicou que o reinvestimento de lucro é um "símbolo de confiança" no lugar que recebe os investimentos e indicou que os dois países que mais se destacaram neste aspecto foram Brasil e Chile.

Em relação aos empréstimos entre empresas, a secretária executiva disse considerá-los o componente mais volátil do IED e avaliou que, muitas vezes, é difícil interpretar a finalidade dessas operações. Uma possibilidade, de acordo com ela, é que sirvam para ajudar empresas que passam por apertos econômicos, como aconteceu no Brasil, onde algumas companhias receberam empréstimos de filiais no exterior.

O relatório da Cepal mostra ainda uma grande heterogeneidade na América Latina. Na região, o investimento estrangeiro aumentou em 16 países em relação a 2017, porém diminuiu em outros 15. Além disso, boa parte do aumento do IED em 2018 se deveu a uma maior entrada de investimentos no Brasil, que concentra 48% do total, e no México, que acumula 20%.

No Brasil, o investimento estrangeiro chegou a US$ 88,31 bilhões, 25,7% a mais que em 2017, e no México foi de US$ 36,87 bilhões, o que representa uma alta anual de 15,2%, segundo a Cepal. Em seguida nesta classificação aparecem Argentina (US$ 11,87 bilhões e aumento de 3,1%), Colômbia (US$ 11,35 bilhões e queda de 18%), Panamá (US$ 6,57 bilhões e aumento de 36,3%) e Peru (US$ 6,48 bilhões e queda de 5,4%).

Já na América Central, o IED registrou um aumento anual de 9,4% graças aos investimentos recebidos pelo Panamá (US$ 6,57 bilhões e aumento de 36,3% em comparação com o resultado de 2017).

No Caribe, os fluxos de investimento estrangeiro caíram 11,4% devido à queda de 29% na República Dominicana, país da região que mais recebe capital estrangeiro.

Quanto à origem dos investimentos, a Cepal destacou que, em 2018, foi mantida a tendência dos últimos anos, e os principais fluxos de IED procederam de Europa, Estados Unidos e China.

Para 2019, a Cepal calcula uma leve diminuição de 0,8% do investimento estrangeiro na América Latina, apesar dos números positivos obtidos no primeiro trimestre do ano.

De acordo com a previsão da entidade, a queda do IED será mais acentuada no Brasil, podendo chegar a 15%. Já a estimativa para o México é otimista, de um aumento de 2,5%.

Bárcena ainda recomendou aos países latino-americanos destinar políticas para atrair investimentos estrangeiros de qualidade e não pensar somente em aumentar os valores investidos.

"As políticas devem ser dirigidas a trazer IED de qualidade, em energias renováveis, onde haja conhecimento, setores que aumentem a produtividade e o emprego e onde se possa avançar rumo a um consumo sustentável", declarou. EFE