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Críticas ao acordo entre EFTA e Mercosul se multiplicam na Suíça

26/08/2019 12h06

Isabel Saco.

Genebra, 26 ago (EFE).- As críticas ao acordo de livre-comércio firmado entre o Mercosul e a Associação Europeia de Livre-Comércio (EFTA) se multiplicam na Suíça, e uma coalizão de grupos políticos e da sociedade civil já anunciou que será oposição à ratificação do pacto no Parlamento.

Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein compõem a EFTA, um grupo de países considerado como o nono maior ator comercial do mundo e que anualmente realiza importações de US$ 3 bilhões do Mercosul.

No entanto, os incêndios que afetam a Amazônia e o temor dos agricultores de verem o mercado suíço cheio de importações procedentes do bloco sul-americano (formado por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) renderam críticas desde o anúncio do acordo, na sexta-feira passada.

"O desmatamento e os incêndios na Amazônia, assim como as violações dos direitos e das terras dos povos autóctones, em benefício da expansão agrícola, podem ficar mais agudos por este acordo", opinou a Coalizão Mercosul, um grupo que reúne organizações que militam a favor dos países mais pobres, dos animais, dos agricultores locais e de uma federação de consumidores.

"As condições agrícolas e de criação no Brasil são indefensíveis porque lá são utilizados hormônios de crescimento e produtos fitossanitários que são proibidos há muito tempo ou que nunca foram utilizados na Suíça", denunciou Markus Ritter, presidente do Sindicato de Agricultores Suíços.

Ritter também criticou que os contingentes de importações pactuados para a carne bovina são muito maiores que os concedidos pela União Europeia ao Mercosul, bloco que está sendo igualmente questionado por líderes políticos europeus por causa dos incêndios na Amazônia.

"O modelo de desenvolvimento promovido consiste na exportação de carne e soja do Mercosul aos países da EFTA, com o qual veremos cada vez mais desmatamento e a destruição da floresta a favor das monoculturas", comentou a representante da ONG Alliance Sud, Isolda Agazzi.

Os atores políticos e econômicos suíços ainda não conhecem o conteúdo completo do acordo firmado, mas Agazzi enfatizou que a sociedade civil suíça espera que contenha um capítulo sobre desenvolvimento sustentável, conforme exige a Constituição do país.

O ministro da Economia suíço, Guy Parmelin, defendeu em nome do governo o acordo comercial com o Mercosul e tentou acalmar o incômodo gerado: "Isto não significa que abriremos de qualquer maneira as nossas fronteiras", afirmou.

As exportações suíças ao Mercosul têm uma tarifa média de 7%, mas que em alguns casos pode chegar a 35%.

"Se a UE conseguir reduções das tarifas, como será o caso, já que fecharam um acordo similar, e nós não fizermos nada, teremos um grande problema de concorrência para a pequenas e médias empresas e risco de perda de empregos", disse Parmelin em entrevista à rádio pública suíça nesta segunda-feira.

Não há dúvida que os mais ameaçados pelas importações de gigantes agrícolas como Brasil e Argentina são os camponeses suíços, enquanto os setores farmacêuticos, de maquinarias e de serviços consideram o acordo uma oportunidade de chegar a um mercado de 260 milhões de pessoas.

Esse argumento não basta para uma aliança de partidos de esquerda e ecologistas que se formou no Parlamento com a meta de conter a ratificação do acordo.

De acordo com o cronograma comunicado pelo governo da Suíça, a assinatura do acordo acontecerá entre o fim deste ano e o início do próximo, para depois passar ao Legislativo em 2020 e entrar em vigor no ano seguinte.

Caso os votos da oposição não sejam suficientes para bloquear o acordo no Parlamento, o Partido Verde antecipou que iniciará o procedimento para que o pacto seja submetido a consulta popular, de modo que o povo tenha a palavra final. EFE