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Futurecom debate as fronteiras éticas e legais de um mundo hiperconectado

31/10/2019 14h36

São Paulo, 31 out (EFE).- A tecnologia como aliada das chamadas cidades inteligentes e suas implicações éticas e legais foram o tema de um debate entre especialistas da IEEE, maior organização do mundo dedicada ao avanço tecnológico em prol da humanidade, onde eles refletiram sobre vantagens e riscos desses sistemas inteligentes durante a Futurecom, que acotece em São Paulo.

Com as populações urbanas cada vez maiores, as cidades inteligentes têm pela frente o desafio de acomodar cada vez mais gente de forma satisfatória e, ao mesmo tempo, atender novas demandas globais para um desenvolvimento mais favorável ao meio ambiente.

"Espera-se que as 'smart cities' promovam qualidade de vida, com um desenvolvimento sustentável e uma melhora dos sistemas urbanos", explicou o membro sênior da IEEE e professor da USP, Paulo Miyagi.

Entre os benefícios que as cidades inteligentes podem oferecer se destacam desde a praticidade em atividades corriqueiras até uma verdadeira revolução tecnológica no setor da eletricidade ou mobilidade, segundo o também membro sênior da IEEE, Cyro Boccuzzi.

Porém, os especialistas avaliam que, em um mundo cada vez mais hiperconectado, os cuidados com a cibersegurança devem ser redobrados e a população deve criar uma maior consciência sobre as ameças relativas à privacidade e proteção de dados.

Miyagi defende que a educação é a principal ferramenta para aumentar essa coscientização coletiva. Para ele, além da implementação de novos mecanismos e sistemas de segurança, é necessário ampliar o debate sobre a ascensão e desafios das novas tecnologias.

"O Brasil é um dos países que mais registra casos de ataque à privacidade. A gente acha que há uma discussão ampla, mas não há", afirmou o especialista.

Já o professor Edson Prestes, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e que atuou como perito em um painel da ONU sobre futuro digital inclusivo, se mostrou preocupado com as últimas novidades lançadas no campo da Internet das Coisas.

"A tecnologia tem causado uma série de violações de Direitos Humanos e isso não tem sido discutido. A Inteligência Artificial (AI) já pode decidir no âmbito da Justiça, na área médica, mas ninguém está pensando nas suas implicações sociais", expressou Prestes.

Um dos principais receios compartilhado entre os três especialistas diz respeito ao uso e tratamento de dados pessoais dos usuários, seja por organizações governamentais ou empresas privadas.

Por se tratar de uma dimensão digital e "sem fronteiras", onde os dados trafegam entre diversos países - cada um com sua respectiva legislação -, Prestes propõe a criação de organizações multilaterais que possam monitorar e estabelecer marcos legais e éticos universais para o uso dessas emergentes tecnologias.

Boccuzzi apontou que a tendência é que esses sistemas autônomos sejam cada vez mais integrados e contem com uma inteligência "rastreável em várias camadas".

Porém, Miyagi lembrou que, "enquanto há milhares de pessoas pensando em novas formas de segurança, há milhares de pessoas pensando em como burlar esses sistemas".

Por isso, os três especialistas concordam que o grande ponto de partida é, justamente, a conscientização da população sobre exposição, dados, privacidade e confiança na tecnologia.

Segundo um estudo realizado pela IEEE, a maioria dos pais brasileiros (75%) concordaria que um coração impresso em 3D fosse implantado em seus filhos no futuro, caso necessário.

Além disso, 69% dos pais da geração do milênio em 2019 afirmaram que permitiriam que robôs movidos a inteligência artificial conduzam cirurgias no Brasil.

Justamente pensando nesse complexo quebra-cabeça, que engloba tanto a responsabilidade ética e moral em caso de falhas quanto as tomadas de decisão por parte das inteligências artificiais, a ONU fez uma recomendação para que os sistemas que tenham impacto direto na vida das pessoas não sejam totalmente autônomos.

"Achamos que inteligência artificial é neutra, realmente inteligente e com uma mesma capacidade cognitiva dos humanos, mas não é bem assim", salientou Prestes.

Embora sejam múltiplas as contribuições e funções oferecidas pela expansão tecnológica, os especialistas enfatizam que o papel do ser humano - e da mente humana - segue sendo essencial.

"A função do ser humano é fundamental. No fim, se nós ensinarmos mal, a máquina fará todo seu trabalho mal. Máquina nenhuma pode substituir o homem, apenas otimizar seu trabalho", resumiu Myiagi. EFE