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Responsabilidade da Boeing em acidente de 2009 foi silenciada, relata jornal

21/01/2020 12h50

Nova York, 20 jan (EFE).- A responsabilidade da Boeing em um acidente ocorrido em 2009 com o modelo anterior ao polêmico 737 Max foi silenciada, informou nesta segunda-feira o jornal "The New York Times", ao citar um episódio semelhante aos dois últimos desastres aéreos da empresa, que deixaram um total de 346 mortos em Indonésia e Etiópia.

Após um Boeing 737 cair perto de Amsterdã há mais de uma década, investigadores holandeses concentraram a culpa nos pilotos por não reagirem adequadamente quando um sistema automatizado não funcionou corretamente. O avião caiu em um campo, matando nove pessoas.

No entanto, a culpa não foi apenas da tripulação, segundo a publicação. As decisões da Boeing, incluindo as escolhas de design arriscadas e avaliações de segurança deficientes, também contribuíram para o acidente no voo da Turkish Airlines.

Mas o Conselho de Segurança holandês excluiu ou minimizou as críticas à fabricante no relatório final, após a retirada de uma equipe de americanos que incluía a Boeing e funcionários federais de segurança, de acordo com documentos e entrevistas aos quais "The New York Times" teve acesso.

O acidente, ocorrido em fevereiro de 2009, envolveu um antecessor do 737 Max da Boeing, o avião que há quase um ano foi proibido de voar devido a acidentes na Indonésia e na Etiópia que mataram 346 pessoas e iniciaram a pior crise da história da empresa.

Uma análise feita pelo jornal americano das provas do acidente de 2009, algumas delas anteriormente confidenciais, revela paralelos com acidentes recentes, e a resistência da equipe americana a uma divulgação completa das descobertas que mais tarde se mostraram relevantes para o Max.

Nos acidentes de 2009 e do Max, por exemplo, a falha de um único sensor causou a falha dos sistemas, com resultados catastróficos, e a Boeing não tinha fornecido aos pilotos informações que pudessem ajudá-los a reagir ao mau funcionamento.

O acidente anterior "representa um evento tão isolado que nunca foi levado a sério", disse Sidney Dekker, um especialista em segurança aérea que foi encarregado pelo Conselho de Segurança holandês de analisar o acidente.

O estudo de Dekker acusou a Boeing de tentar desviar a atenção das suas próprias "falhas de design" e outros erros com afirmações "pouco críveis" que incentivavam os pilotos a estarem mais atentos, de acordo com uma cópia revista pelo jornal.

Essa análise nunca foi divulgada. O Conselho de Segurança holandês descartou os planos de publicá-lo, segundo Dekker e outra pessoa envolvida no caso. Uma porta-voz do órgão disse que não era comum divulgar estudos especializados e que a decisão foi tomada apenas pela diretoria.

Ao mesmo tempo, a diretoria eliminou ou modificou descobertas no próprio relatório de acidentes sobre problemas com o avião quando a equipe dos EUA interveio.

O órgão também inseriu declarações escritas pelos americanos, que disseram que certos erros do piloto não tinham sido "devidamente enfatizados". EFE

ce/vnm