Bruxelas pede que Zuckerberg assuma responsabilidade por impactos do Facebook
Além de Breton e Jourová, Zuckerberg também se reuniu com a comissária de Concorrência, Margrethe Vestager. Com os três, abordou assuntos como a agenda digital europeia e a proteção da democracia, a luta contra a desinformação e a necessidade de garantir eleições livres. Tanto Jourová como Vestager são vice-presidentes da Comissão Europeia.
Esta visita de Zuckerberg a Bruxelas é a primeira desde que compareceu ao Parlamento Europeu por causa do escândalo da Cambridge Analytica, há quase dois anos, e coincide com um debate cada vez mais intenso sobre a tributação das empresas de tecnologia e a transparência no funcionamento dessas plataformas.
"Quando você está na posição do Facebook, você precisa antecipar o papel que desempenha nas nossas sociedades e economias, e não esperar que os reguladores, governos e parlamentos digam o que você deve fazer", disse Thierry Breton, comissário europeu de Mercado Interior, em encontro com a imprensa após se encontrar com Zuckerberg por cerca de 45 minutos.
Breton ressaltou que eles conversaram "durante muito tempo" sobre a responsabilidade que estas empresas devem assumir, o que disse considerar "extremamente importante", e confessou estar "desapontado" com a atenção que plataformas como o Facebook deram às recomendações de Bruxelas sobre o controle de conteúdo ilegal ou como lidar com a desinformação.
"Precisamos de um equilíbrio entre a liberdade de expressão e o contrário", alertou o comissário francês, que insistiu na responsabilidade deste tipo de empresas de se autorregularem e de entenderem o papel que desempenham na sociedade de hoje.
"Disse a ele que não somos nós que temos de nos adaptar a estas empresas, mas que são estas empresas que têm de se adaptar (às regras da) União Europeia", enfatizou o comissário, que disse ter concordado com Zuckerberg para se reunirem outras vezes.
Em relação ao livro branco sobre a regulamentação do conteúdo online que o Facebook apresentou com propostas para dar luz verde à nova legislação sobre o assunto, Breton lamentou que seja um documento "muito fraco" em termos da responsabilidade que as plataformas digitais devem assumir e que não tem "nada" sobre o domínio do Facebook no mercado.
"QUE VALORES QUER PROMOVER?"
Vera Jourová, vice-presidente de Valores e Transparência da Comissão Europeia, disse a Zuckerberg que quer que o Facebook faça "um esforço extra para ajudar a defender as democracias", e avisou que a rede social "não pode fugir de sua responsabilidade".
Segundo fontes do bloco, Jourová afirmou que este esforço extra "requer a revisão da transparência e supervisão dos algoritmos" para evitar que as decisões sejam tomadas de forma opaca.
A comissária tcheca também alertou que nem mesmo selar uma regulamentação europeia sobre este setor resolverá "todos os problemas".
"O Facebook e o senhor Zuckerberg devem se perguntar quem eles querem ser como uma empresa e que tipo de valores eles querem promover. Não caberá aos governos garantir se o Facebook quer ser uma força para o bem ou para o mal", advertiu.
A vice-presidente da CE responsável pela Digitalização, Margrethe Vestager, também se encontrou com Zuckerberg nesta segunda-feira, mas só foi revelado que ambos tiveram "uma boa troca sobre questões atuais no setor digital", de acordo com fontes da UE.
Em seus últimos cinco anos à frente da pasta de Concorrência da UE, Vestager se tornou um flagelo de multinacionais como o Facebook. Sob seu mandato, a rede social foi multada em 110 milhões de euros por fornecer informações "incorretas ou enganosas" sobre a aquisição do WhatsApp.
Laura Zornoza.
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