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ONU pede ação multilateral com 10% do PIB mundial para combater pandemia

31/03/2020 19h35

Nações Unidas, 31 mar (EFE).- O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu nesta terça-feira uma "resposta multilateral de grande escala" para a pandemia de coronavírus: um movimento que represente pelo menos 10% do produto interno bruto (PIB) mundial, um plano de solidariedade que salve vidas, dê acesso universal às vacinas, injete liquidez no sistema e freie o desemprego em uma crise que comparou à da Segunda Guerra Mundial.

Em pronunciamento transmitido da sede das Nações Unidas, Guterres apresentou o relatório "Responsabilidade compartilhada, solidariedade global: respondendo ao impacto socio-econômico da Covid-19", que reúne todas as previsões e avaliações que as Nações Unidas e agências internacionais fizeram nos últimos dias sobre a crise gerada pelo novo coronavírus.

Como havia enfatizado na reunião do G20, Guterres transmitiu a necessidade de lançar um fundo fiduciário de US$ 2 bilhões, de modo que a metade dessa quantia esteja disponível para os próximos nove meses. De qualquer forma, o montante terá de ser revisto com a evolução da pandemia.

O chefe da ONU lembrou a magnitude da pandemia, que afeta atualmente mais de 800 mil pessoas no mundo todo e já deixou mais de 39 mil mortos, uma doença "que está se espalhando exponencialmente pelo mundo" e que levou o Fundo Monetário Internacional (FMI) a reavaliar o crescimento econômico "declarando que entramos em uma recessão igual ou pior que a de 2009".

Da mesma forma, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima uma vasta perda de postos de trabalho, entre 5 milhões e 25 milhões, e um impacto no bolso dos trabalhadores entre US$ 860 bilhões e US$ 3,4 trilhões.

Um setor de grande preocupação nas Nações Unidas é o da educação, pois a Unesco estima que o vírus tenha deixado 1,5 bilhão de estudantes em 166 países fora das escolas e universidades, representando 87% dos alunos e, além disso, quase 60,2 milhões de professores não estão mais nas salas de aula.

Para contornar a situação, Guterres fez um apelo internacional para mobilizar pelo menos 10% do PIB mundial porque "estamos enfrentando uma crise de saúde global diferente de qualquer outra nos 75 anos de história das Nações Unidas", um vírus que "está matando pessoas, espalhando sofrimento humano e mudando a vida das pessoas".

"Mas isto é muito mais que uma crise de saúde", disse Guterres, que acredita que a primeira coisa a fazer é dar uma resposta "imediata" coordenada para suprimir o contágio e acabar com a pandemia, uma resposta que "proporcione acesso universal ao tratamento e às vacinas quando está pronta".

O diplomata português disse ser "essencial que os países desenvolvidos ajudem imediatamente os países menos desenvolvidos a fortalecer seus sistemas de saúde e sua capacidade de resposta para interromper a transmissão, caso contrário enfrentaremos o pesadelo da doença se espalhando como um incêndio no sul global com milhões de mortes e a possibilidade de a doença reaparecer onde antes era reprimida".

"Devemos aumentar muito os recursos disponíveis para os países em desenvolvimento, ampliando a capacidade do FMI, especificamente através da emissão de novos direitos especiais de saque, e de outras instituições financeiras internacionais para injetar rapidamente recursos nos países necessitados", enfatizou.

Guterres, que há dias apelou para um cessar-fogo em todos os conflitos internacionais, também voltou a ressaltar a importância do "alívio da dívida" em muitos países, "incluindo isenções imediatas do pagamento de juros para 2020".

"A recuperação da crise da Covid-19 deve levar a uma economia diferente. Tudo o que fizermos durante e após esta crise deve se concentrar na construção de economias e sociedades mais equitativas, inclusivas e sustentáveis, resistentes às pandemias, às alterações climáticas e aos muitos outros desafios globais que enfrentamos. O que o mundo precisa agora é de solidariedade. Com solidariedade, podemos derrotar o vírus e construir um mundo melhor", concluiu.