Acordo evita estatização, mas controle da TAP volta a ser de Portugal
Um acordo de última hora com acionistas privados impediu a estatização da empresa, mas ainda assim ela ficará sob controle público cinco anos após sua controvertida privatização. Ainda restará uma presença privada em seu capital: 22,5% permanecem com o empresário português Humberto Pedrosa, e 5%, com funcionários.
O próximo passo será um plano de reestruturação para tornar viável a companhia aérea, que o governo do socialista António Costa classifica como "estratégica".
SÍMBOLO COM 75 ANOS DE VIDA
Fundada em 1945, em pleno Estado Novo de António de Oliveira Salazar, a TAP é uma das principais empresas portuguesas e tem um peso significativo em sua economia: emprega mais de 10 mil pessoas, gasta 1,3 bilhão de euros em compras de empresas nacionais e contribui com 300 milhões de euros para os cofres públicos através de impostos e taxas da previdência social.
Segundo dados da própria companhia, em 2018 ela contribuiu com 3,5 bilhões de euros para a economia portuguesa - incluindo o impacto direto dos turistas que transportou - o que representa cerca de 1,7% do PIB português.
A TAP esteve sob controle estatal durante a maior parte de sua trajetória: nasceu como um serviço público, foi administrada por uma sociedade anônima - embora com uma forte presença estatal - entre 1953 e 1975 e, com a chegada da democracia, voltou à administração direta estatal.
Porém, a crise financeira acabou levando a uma transição para o setor privado em 2015.
PRIVATIZAÇÃO POLÊMICA.
Após várias tentativas fracassadas em anos anteriores, o governo do conservador Pedro Passos Coelho vendeu 61% da empresa em 2015 ao consórcio privado Gateway, formado pelo empresário português Humberto Pedrosa e pelo brasileiro-americano David Neeleman, proprietário da companhia aérea Azul.
A operação foi fortemente contestada pela oposição de esquerda e por sindicatos, que encenaram manifestações contra o que consideravam um ato de "destruição da economia do país".
Os socialistas, já liderados por António Costa, prometeram então reverter o processo se conseguissem chegar ao governo.
No final de 2015, Costa tomou posse como primeiro-ministro, e em 2016 reverteu parcialmente a privatização, deixando sua estrutura acionária como estava até aquele ano: 50% do capital nas mãos do Estado português, 45% em poder do Gateway e os 5% restantes para os trabalhadores.
Embora o Estado fosse o maior acionista, o acordo cedeu a administração da empresa ao consórcio privado.
EM BUSCA DA RECUPERAÇÃO.
Em um período de cinco anos de gestão e investimento privado, a empresa conseguiu ganhar fôlego e crescer no mercado: passou de 10 milhões para 17 milhões de passageiros por ano, aumentou a frota de quase 75 aeronaves para mais de 100 e multiplicou a oferta de destinos e frequências, o que também lhe permitiu crescer de cerca de 8,6 mil funcionário para 10,6 mil.
Entretanto, a situação econômica do grupo nunca se tornou forte, e em cinco anos só conseguiu registrar lucro em 2017, com saldo positivo de 21 milhões de euros.
A companhia aérea encerrou 2019 com prejuízo de quase 106 milhões, que a administração culpou pelo enorme investimento na renovação de sua frota e pelos problemas do saturado aeroporto de Lisboa.
O estado das finanças ainda era delicado demais para encarar uma crise como a provocada pela pandemia do novo coronavírus, que obrigou a companhia aérea a interromper quase completamente suas atividades: passou de 3 mil voos por semana para apenas cinco, todos para as ilhas portuguesas, e suspendeu o contrato de 90% de seus trabalhadores.
Somente no primeiro trimestre de 2020, o prejuízo da TAP chegou a 395 milhões de euros.
Para evitar a estatização, o governo de António Costa promoveu um plano de resgate que previa uma injeção de capital de 1,2 bilhão de euros e um projeto de viabilidade para a empresa, que será reestruturada.
Paula Fernández
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