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Brasil precisará de reformas para superar recessão após pandemia, diz OCDE

LUIS LIMA JR/FOTOARENA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO
Imagem: LUIS LIMA JR/FOTOARENA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO

17/12/2020 00h19

Rio de Janeiro, 16 dez (EFE).- A pandemia de covid-19 provocou "muito sofrimento humano" e levou a economia brasileira a uma "profunda recessão", e a recuperação exigirá amplas reformas e a adoção de um novo modelo de desenvolvimento, declarou a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) no relatório anual sobre o Brasil.

"Uma recuperação forte e inclusiva da recessão exigirá melhorias duradouras nas políticas econômicas", segundo o relatório sobre a economia brasileira em 2020, divulgado nesta quarta-feira (16).

O estudo foi apresentado em entrevista coletiva virtual pelo secretário da entidade, Ángel Gurría, e pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.

De acordo com as projeções da OCDE, o produto interno bruto (PIB) do Brasil se contrairá 5% em 2020, como consequência da pandemia, e a recuperação será lenta. A previsão é que haja um crescimento de 2,6% em 2021, e de 2,2% em 2022.

"A pandemia reverteu a lenta recuperação que o Brasil vinha experimentando após a última recessão e mergulhou a economia em outra recessão ainda mais profunda", analisou a OCDE, ao lembrar crise brasileira em 2015 e 2016, quando o PIB recuou cerca de sete pontos percentuais.

"O consumo e o investimento nacionais diminuíram à medida que milhões de pessoas perderam suas rendas", acrescenta o relatório, citando os efeitos das medidas de distanciamento social que paralisaram a atividade econômica por meses.

Segundo a OCDE, o Brasil terminará 2020 com uma queda de 5,2% no investimento, assim como uma histórica taxa de desemprego de 13,6%, que continuarão subindo em 2021 (16%) e só começarão a diminuir em 2022.

O estudo indica que o governo brasileiro respondeu inicialmente com políticas adequadas, como a distribuição do auxílio emergencial, para amenizar os efeitos da pandemia.

"Essas políticas responderam de maneira oportuna e decisiva ao oferecer apoio à renda de milhões de brasileiros, financiar o trabalho de curta duração, facilitar a expansão do crédito, adiar os impostos e antecipar o recebimento dos benefícios", afirmou.

Perspectiva de curto prazo

A OCDE admite que as perspectivas a curto prazo dependerão da situação sanitária do país. Com cerca de sete milhões de casos de covid-19, entre eles 182 mil mortes, o Brasil é um dos países mais afetados do mundo pelo novo coronavírus.

Uma recuperação sustentável e forte exigirá, segundo a OCDE, uma melhora significativa dos resultados fiscais do país, um aperfeiçoamento das políticas de proteção social, a manutenção da agenda de reformas estruturais da economia e um novo modelo de desenvolvimento baseado mais no aumento da produtividade do que no aumento da massa trabalhadora e consumidora.

"Melhorar os resultados fiscais continua sendo um dos principais desafios do Brasil, dado o nível da dívida pública, que a pandemia aumentou significativamente. Os gastos públicos terão que ser mais eficientes", opinou a organização.

A dívida pública subiu para um nível recorde, equivalente a 91,4% do PIB em 2020, um aumento de 15 pontos percentuais, e continuará subindo, até 94,3% do PIB 2021, e para 96,6% em 2022.

"A proteção social tem que ser fortalecida mediante uma distribuição mais eficaz dos benefícios, o que pode permitir reduções significativas da desigualdade e da pobreza", acrescentou.

Benefícios distribuídos de forma inadequada

Os benefícios sociais, que equivalem a 15% do PIB, "se caracterizam por uma distribuição inadequada, com quase a metade das transferências beneficiando um setor populacional com maior renda", documenta a OCDE.

Para a organização, um crescimento mais forte dependerá do aumento da produtividade no Brasil, estancada há décadas.

"Isso exige encarar os desafios políticos implícitos, promovendo melhoras no âmbito da regulamentação, uma reforma tributária, um sistema judiciário mais eficiente e uma integração mais forte à economia global", disse a instituição.

"Fortalecer a produtividade implica em reformas estruturais na economia, que têm que ser acompanhadas de políticas de formação e educação bem desenhadas. A capacitação profissional focada nas necessidades do mercado de trabalho pode ajudar os trabalhadores a fazerem essa transição com êxito e aproveitarem novas oportunidades para conseguirem empregos melhores", comentou.

De acordo com a OCDE, o Brasil cresceu nos últimos anos beneficiado por um crescimento demográfico favorável e pelos altos preços das matérias-primas no mercado internacional.

"Mas a demografia alcançou um ponto de inflexão em 2019, e o Brasil sofrerá nos próximos 25 anos um rápido envelhecimento da população que reverterá todo o crescimento que foi impulsionado pela demografia desde 2000. Entre os países da OCDE, apenas Coreia do Sul e Costa Rica envelheceram tão rapidamente", segundo o relatório.