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Ghosn se defende e diz acusadores queriam deixá-lo no esquecimento

18/12/2020 14h51

Noemí Jabois, Beirute, 18 dez (EFE).- O executivo brasileiro Carlos Ghosn, ex-presidente da aliança entre as montadoras Nissan e Renault, afirmou, em entrevista à Agência Efe, que as acusações contra ele foram formuladas porque "nunca pensaram que ele escaparia" do Japão, de onde conseguiu fugir para o Japão há um ano.

Ghosn garante que o plano contra ele era de retirada da companhia e que o caso caísse em esquecimento, enquanto ele cumpria pena de prisão.

O brasileiro concedeu entrevista à Efe no hotel de um restaurante em Beirute e manteve o habitual silêncio sobre a fuga espetacular o Japão. Além disso, garantiu que chegou a perder as esperanças enquanto esteve preso, no entanto, "nunca a fé".

No fim de 2018, Ghosn foi detido no país asiático, acusado de ocultar das autoridades uma série de bônus acordados com a Nissa Motors entre 2011 e 2018, que seriam pagos quando ele se aposentasse, no valor de 73 milhões de euros (R$ 452,2, em conversão atual).

Desde então, o executivo brasileiro, que também tem cidadania francesa e libanesa, vem garantindo que foi vítima de um "golpe de Estado", realizado por pessoas que atuavam na Nissan.

PROCESSOS EM VÁRIOS PAÍSES.

"Há uma única razão para eu ter sido preso, que é a mesma pela qual foi Greg Kelly (antigo membro o Conselho de Administração da Nissan) ainda segue no Japão e que está sendo julgado: é que não declarei uma compensação que não estava nem decidida, nem paga", afirma Ghosn.

O empresário afirma ter sido preso sob este pretexto para ganhar tempo.

"Queriam encontrar outra coisa, sabiam que isto não seria suficiente. Procuraram e inventaram novas acusações pela simples razão de que não me queriam no Japão e não queriam que eu falasse", garantiu o brasileiro.

Atualmente, também estão abertos processos contra Ghosn na França, por tráfico de influência, desvio de verbas, corrupção, apropriação indevida e lavagem de dinheiro, entre outros.

Além isso, no país, o executivo é investigação pela mudança do domicílio fiscal para a Holanda, onde está localizada a empresa que rege a aliança entre Renault e Nissan, e onde está em curso outro processo.

"ELES".

No livro que Ghosn está lançando aponta para pessoas da Nissan e para o escritório do procurador de Tóquio, embora na entrevista, o brasileiro repita várias vezes o termo "eles", sem nenhum tipo de identificação.

Segundo o executivo "eles" tinham um plano que finalmente falhou: "Nós o prendemos e temos todo o nosso tempo para lançar um monte de acusações contra ele e então ele estará lá por dez, 15, 20 anos e a história será esquecida", apontou.

"Mas, por minha sorte, pude escapar e falar sobre meu caso", completou.

Entretanto, como tem feito repetidamente, ele se recusa a discutir como escapou de sua prisão domiciliar no Japão, supostamente pegando um trem-bala para Osaka e se escondendo em uma mala, para depois viajar em um avião particular rumo a Istambul, na Turquia, e na sequência para Beirute.

"Não vou falar sobre minha fuga porque ainda acredito que as pessoas que participaram dela podem de alguma forma sofrer a ira das autoridades japonesas", explica.

Ghosn lembra que, contra ele e a mulher foram emitidos alertas pela Interpol, além de uma autorização de extradição para pessoas "suspeitas" de terem ajudado na fuga, ordenada pelos Estados Unidos.

O brasileiro lembrou, inclusive, que no mês passado, um grupo de trabalho da ONU concluiu que sua prisão entre 2018 e 2019 foi arbitrária, desrespeitando artigos de tratados internacionais.

De acordo com o executivo, a decisão de ir para o Líbano se justificou, exclusivamente, pela presença da mulher, Carole, no país, já que as autoridades japonesas, segundo ele, não permitiam sequer o contato telefônico com ela, sob a alegação de que poderia acontecer influência de testemunhas e adulteração de provas.

"Ridículo", classificou Ghosn, já que ele estava autorizado a se encontrar com amigos e outros familiares, como a irmã e filhos.

"Eles sabiam que essa relação era muito forte e queriam me colocar em uma situação em que eu perderia qualquer força que tivesse para me defender, porque finalmente queriam uma confissão", completa.

O brasileiro, no entanto, garantiu que nunca pensou em assumir crimes que não tinha cometido, como revelou ter sugerido a primeira equipe de advogados que o defendeu.