BID: América Latina precisa democratizar vacina e apostar em integração

A "democratização" da vacina e a "integração regional" e uma "recuperação sustentável" serão essenciais para evitar "mais uma década perdida" na América Latina, dada a magnitude da crise desencadeada pela pandemia do novo coronavírus, ressaltaram nesta quarta-feira o presidente da Colômbia, Ivan Duque, e o do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Mauricio Claver-Carone.
"Esta crise é um ponto de virada para refletir sobre a pior crise socioeconômica da América Latina (...) E evitar outra década perdida", disse Claver-Carone em entrevista coletiva ao final do primeiro dia da 61ª reunião de governadores da instituição, que é realizada virtualmente a partir da cidade colombiana de Barranquilla.
"O maior desafio agora é a democratização da vacina. Há uma correlação entre vacina e recuperação", disse o presidente da organização, o primeiro americano a liderar o BID em sua história de seis décadas e que tomou posse no ano passado.
Com mais de 22,1 milhões de pessoas infectadas e 700.000 mortas desde que o primeiro caso foi detectado no Brasil, em fevereiro do ano passado, a crise sanitária está longe de ter terminado na América Latina.
Vários países estão enfrentando uma segunda onda de infecções, e o ritmo da vacinação é lento, com exceção do Chile, que é um dos líderes mundiais na campanha de imunização.
Em contraste com o Chile, que é o líder regional e já inoculou mais de 20% de sua população, há países como Guatemala, Paraguai e El Salvador que só vacinaram alguns milhares de pessoas.
O BID anunciou na semana passada que complementará seu programa de financiamento de US$ 1 bilhão para expandir a vacinação na América Latina com uma garantia de cobertura legal, o que deverá limitar a exposição tanto de governos quanto de empresas farmacêuticas nesta primeira fase de imunização.
Encruzilhada econômica e social
A gravidade e a força da crise colocaram a América Latina em uma encruzilhada.
"O trabalho do BID é muito importante para a vacinação em massa", disse Duque.
Além disso, o presidente colombiano ressaltou que é necessário redefinir os planos de crescimento para apostar em "uma recuperação ambiental e social sustentável para fechar as lacunas existentes", com uma ênfase importante na "transição energética", dada a ameaça da crise climática.
Durante o primeiro dia da assembleia, que será realizada até domingo (21), foi destacada a necessidade de aumentar os investimentos em infraestrutura, com parcerias com o setor privado, para criar dinamismo e emprego.
Em outro painel do evento, sobre inclusão social, Juliana Londoño-Vélez, professora da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), destacou que a pandemia forçou uma "renovação do contrato social".
O impacto nos serviços sociais tem sido enorme na América Latina, onde apenas quatro países da região têm escolas totalmente abertas, e as mulheres não só perderam duas vezes mais empregos do que os homens, como os estão recuperando em ritmo muito mais lento.
Incremento da capitalização do BID
"A Colômbia apoiou e continua a apoiar os esforços de fortalecimento do banco, mas eles não acontecem da noite para o dia, há sempre uma etapa anterior", reconheceu Duque.
Durante a assembleia baseada em Barranquilla, espera-se seja formada uma comissão de estudo formada por especialistas para definir as condições e o volume deste aumento de capital.
"A América Latina precisa - comentou Duque - de um banco que cresça em paralelo com as necessidades da região".
Claver-Carone defendeu a necessidade de um aumento geral de capital no BID e calculou sua meta em US$ 20 bilhões para aumentar os recursos disponíveis para empréstimos na região a partir dos atuais US$ 12 bilhões por ano.
O último aumento de capital do banco de desenvolvimento ocorreu em 2008.
"Não tenho dúvidas de que nos quatro anos e seis meses que me restam (no comando do banco), já que prometi ficar apenas um mandato, conseguiremos uma capitalização adicional do banco", disse o chefe do BID, que alegou ter o apoio dos Estados Unidos, país com a maior participação na organização.
A assembleia continua nesta quinta-feira com painéis sobre o empoderamento das mulheres, o fortalecimento do potencial sustentável da Amazônia e a inovação como um motor de inclusão social.
A agenda dos próximos dias do evento inclui discursos do presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, do secretário geral da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Ángel Gurria, e do presidente do Fundo Mundial para o Meio Ambiente, Carlos Manuel Rodriguez.