Setor da carne da Argentina teme os danos da suspensão de exportações
Buenos Aires, 24 mai (EFE).- O setor de produção de carne bovina da Argentina, que emprega 400.000 pessoas e gera exportações anuais no valor de US$ 3 bilhões, receia que a decisão do governo de suspender os envios para o exterior para conter os preços no mercado interno gere um prejuízo em grande escala para a atividade, como já aconteceu há 15 anos.
A medida, em vigor desde quinta-feira passada e que durará o período de um mês, foi amplamente rejeitada pelos exportadores, matadouros, sindicatos do setor, governos de algumas províncias produtoras e, como protesto, os próprios pecuaristas decidiram não enviar gado vivo para o mercado de Liniers em Buenos Aires, o principal da Argentina, até a próxima sexta-feira.
A Argentina é um dos maiores consumidores mundiais de carne de vaca per capita (45 quilos por ano) e o governo afirma que a medida busca reduzir o preço deste alimento fundamental na mesa dos argentinos, que em abril registrou um aumento anual de 66,1%, bem acima da variação geral dos preços, de 46,3%.
No entanto, o setor alega que a suspensão das exportações não só não conseguirá conter a inflação como também trará múltiplos prejuízos econômicos ao país, que sofre uma grave recessão há três anos.
UM DESASTRE QUE JÁ ACONTECEU.
Os "erros do passado" que o setor pede para não serem esquecidos se referem aos impactos dos processos de intervenção que a cadeia da carne bovina sofreu entre 2005 e 2010, incluindo uma suspensão das exportações em 2006.
"Foi um desastre. Perdemos 10 milhões de cabeças de gado. Passamos de ter 10% do mercado mundial para menos de 2%. E, após três anos, a carne acabou custando três vezes mais em termos reais", comentou o consultor especialista em pecuária, Victor Tonelli, à Agência Efe.
Para o especialista, "a pior coisa" é que o governo não deveria ignorar este impacto porque, entre 2003 e 2008, o chefe de gabinete era o atual presidente, Alberto Fernández.
Segundo um relatório do Instituto de Estudos sobre a Realidade Argentina e Latino-Americana, da Fundação Mediterrânea, esse processo de intervenção implicou perdas anuais para a Argentina em exportações de US$ 1,5 bilhão, uma queda na produção e uma descapitalização devido a uma redução do estoque de gado de cerca de US$ 4,9 bilhões.
De acordo com dados do setor, também foram perdidos 19.000 postos de trabalho.
Para o consultor Fernando Canosa, a nova suspensão das exportações é "um disparate", uma vez que nada sugere que a medida terá efeitos diferentes do que aconteceu há 15 anos.
"Com a pressão dos produtores, matadouros, sindicatos e governadores, e com a greve de comercialização que está sendo realizada, esperamos que haja uma inversão da medida. Mas, se isto se mantiver ao longo do tempo, poderão ocorrer os mesmos efeitos que no passado", previu o especialista à Efe.
IMPACTO NOS MERCADOS.
A Argentina é o quinto maior produtor e o quarto maior exportador de carne bovina do mundo, cujos envios representam 30% da sua produção, com exportações que totalizaram US$ 2.719,4 bilhões em 2020, impulsionadas principalmente pela demanda da China, que compra três em cada quatro toneladas exportadas.
Segundo Tonelli, após o anúncio da suspensão das exportações, o preço da carne saltou 10% no mercado internacional, "e o pior é que deixam de entrar US$ 250 milhões por mês para as exportações" para a Argentina.
Embora a suspensão das exportações exclua 20% das remessas que correspondem a operações ligadas a cotas de exportação (como a quota Hilton para a União Europeia) e acordos ao abrigo de preferências pautais, muitas empresas serão forçadas a violar seus contratos de transporte.
"As empresas que não cumprirem o acordo sofrerão penalidades. E o pior é que a Argentina perde seriedade e credibilidade como fornecedor", advertiu Canosa.
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