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Metade de cidade paulista depende do Bolsa Família

José Maria Tomazela

Ribeirão Branco, SP

13/05/2017 09h39

Morando com a mãe desde que o marido a deixou, a dona de casa Marili Dias da Silva, de 36 anos, conta as horas à espera de sacar os R$ 240 mensais que o Bolsa Família deposita em sua conta social. Juntando com os R$ 200 que recebe por mês de pensão do ex-marido, o dinheiro é suficiente para dar de comer aos pequenos Willian, de 13 anos, Tatiara, de 12, Marcelo, de 7, e a bebê Carla, de 10 meses, que ainda mama no peito. "Tem vez que um pede um tênis, outro quer um sapato e não tem como comprar, mas ao menos eles comem. Se não fosse o Bolsa, eu estava lascada", disse.

A família de Marili é uma das 3.647 inscritas no cadastro único do Bolsa Família em Ribeirão Branco, cidade de 18.629 habitantes no sudoeste paulista. De acordo com a prefeitura, elas somam 14,5 mil pessoas - 78% da população depende da renda do programa federal.

A secretária de Promoção Social, Lys Teixeria, conta que o número de famílias efetivamente beneficiadas acaba sendo menor porque muitas migram para outras cidades em busca de trabalho e têm o benefício suspenso por não atender a condicionantes, como a frequência dos filhos na escola ou a pesagem dos bebês.

Em março, 2.267 famílias - 9.068 pessoas ou quase 50% da população - dividiram R$ 342,5 mil do programa, valor médio de R$ 151,10 por família. "A cidade não tem indústria, vive da agricultura e 90% das lavouras são de tomate, com ciclo de produção de seis meses. Na entressafra, de abril a setembro, não tem trabalho e todas essas pessoas só podem contar com o Bolsa Família", diz o prefeito Mauro Teixeira (PTB), que administra receita de R$ 4 milhões por mês.

Com a queda no preço do tomate e a crise econômica, o índice de pobreza cresceu. Ao menos 1.437 famílias (5,7 mil pessoas) vivem com menos de R$ 85 per capita ao mês, em situação de pobreza extrema. Ribeirão Branco está em último lugar entre os 645 municípios paulistas no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), indicador que mede as condições de vida.

Nos últimos meses, os R$ 240 do Bolsa Família de Marili passaram a sustentar também o irmão dela, Nilton Dias da Silva, de 38 anos, e seus filhos Fabrício, de 7, e Milena Vitória, de 5. "Ele morava fora, mas separou da mulher e veio para cá com as crianças. Estamos dividindo o que já era pouco." A casa de tábuas, com piso de cimento queimado com "vermelhão", tem sala, cozinha e dois quartos. A aposentadoria de um salário mínimo da mãe dela, Maria Morato Dias, de 69 anos, banca despesas de luz, água e gás, além dos remédios que ela toma.

A dona de casa Rosa Maria Souza das Neves, de 34 anos, também precisa "esticar" os R$ 590 por mês que recebe do programa para manter alimentados os seis filhos, com idades entre 12 anos e 11 meses. O marido dela, José Nilson, de 34 anos, trabalhou quatro meses na safra de tomate e recebeu R$ 800 por mês.

"O serviço que aparece, eu pego. Faço cerca, roço pasto, mas ninguém paga mais do que R$ 20 por dia. O que salva é que a casa é nossa, não preciso pagar aluguel", diz, apontando seu barraco de madeira sobre um barranco, na Vila São José. Ele não tem escritura, apenas a posse, como a maioria dos donos de imóveis de Ribeirão Branco.

A família da cabeleireira Célia Aparecida Costa, 45 anos, está entre as que já não dependem do programa. Economizando o dinheiro recebido pelos dois filhos, que fizeram 18 anos, ela comprou equipamentos, montou o salão e fez cursos gratuitos oferecidos pelo Centro de Referência de Assistência Social (Cras). "Estou com uma boa clientela e devo tudo ao Bolsa Família." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.